Diálogos de quarentena, ep.2

Mari, Julia e Pedro na cozinha, tomando café:

M- Faz uns dois dias que eu não tomo banho

J- To sabendo haha nessa casa não se escova os dentes, não se toma banho..

P- Eu tomei ontem à noite!

M- Mas você tomou no nosso banheiro ou no do Rafa?

P- No nosso

M- Atá

J- Não sei como vocês conseguem ficar com um chuveiro que não funciona direito e não fazer nada pra arrumar

P- Nós tentamos arrumar

J- Qual é o problema então?

M- A fiação

P- Não acredito que você vai falar de novo que é a fiação! Quantas vezes já disse que não tem nada a ver?

J- Na minha casa tinha um chuveiro que não funcionava e no fim era a fiação mesmo, as maritacas comeram o fio

P- Mas aqui não é isso, porque a voltagem chega no chuveiro, a gente mediu

J- Se não é a fiação é o que então?

M- Deve ser o chuveiro

J- Então é só trocar

P- A gente comprou um novo, mas dês que foi instalado não tem funcionado direito

M- Eu preferia que você tivesse recebido o eletricista aquele dia

P- Eu tava trabalhando

M- Eu sei, é que não fiquei confortável em receber ele aqui em casa sozinha, talvez se você tivesse recebido teria entendido o que aconteceu

P- É porque você não ficou vendo ele instalar..

Pedro sai da cozinha

M- Pro Pedro tudo o que eu faço tá errado e tudo o que ele faz tá certo. Estou cansada disso

J- O Rafael também é assim, fica irritado comigo por qualquer coisa

M- Maior exagero

Terminamos o café, a Ju está lavando a louça e eu, que estava chateada com o Pedro, fui falar com ele:

M- Acho que as coisas não estão boas, mas também não sei o que fazer pra melhorar

P- Você ficou chateada com o que eu falei do chuveiro?

M- Fiquei. Se você sabe tanto, por que não resolve?

P- Você também sabe

M- Você poderia admitir pelo menos uma vez que a responsabilidade é sua ao invés de jogar pra mim?

P- Mas a responsabilidade é sua também

M- Acho que não vamos nos entender assim

P- O que você quer que eu faça?

M- Quero que você seja mais permeável

P- Só se eu não te conhecesse

M- Como assim?

P- Se eu não te conhecesse ia tentar entender o que você quer dizer, mas eu já sei o que você quer dizer

M- Se você já sabe, então a gente estaria conseguindo se entender super bem, mas não é isso que está acontecendo né? Ao contrário, estamos emperrados

P- Verdade, o chuveiro é a prova de que tá emperrado mesmo

M- Pois é! Por isso acho importante a gente entender por quê. Na reunião vai dar pra ver isso melhor…

P- Era pra ter tido reunião ontem, mas ninguém lembrou disso. E acho que vocês vão esquecer da faxina também

M- Mas a faxina tá combinada, vai ser amanhã.

P- Tá, quero ver

M- Bom, eu vou indo, só vim aqui pra dizer como eu tava me sentindo. E do seu lado, como é?

P- Como é o que, não entendi

M- Eu to achando que nossa relação tá bem bosta, isso me incomoda. Pra você tá tudo bem?

P- Pra mim sim, eu só quero que você faça as coisas que tem que fazer

M- Entendi

P- É que eu não espero nada de você, o que vier eu aproveito do jeito que é

M- Então pra você tanto faz, é indiferente

P- Pra mim a prioridade é fazer as coisas da casa e se fazendo isso a gente se der bem, maravilha. Igual no trabalho, não estou lá para fazer amizade, mas se de repente rolar vou aproveitar

M- Pra mim a amizade é o principal

P- Por isso que seu jeito me irrita tanto. Você tá bem ai de pé, não quer sentar?

M- Quero.

P- Então, pra você basta eu te agradar que tá tudo resolvido

M- Isso mesmo!

P- Se eu te tratar bem você vai fazer o que eu quiser

M- Possivelmente

P- Que bobagem!!

M- É né haha

P- Bom, eu não sei ficar agradando, ainda mais quem eu tenho intimidade

M- Não é estranho isso? A gente trata mal quem a gente tem intimidade

P- É bem estranho mesmo

M- Mas é muito bom poder ser honesto

P- Na rua a gente tem que ser legal pra poder se vender por aí

M- É bom chegar em casa e não precisar se esforçar pra ser “educado”

P- É mesmo

M- Achei interessante seu jeito de pensar, nunca tinha pensado assim

P- Percebi! rs

M- Você não coloca o foco nas relações, então deixa livre pra serem o que for

P- Isso mesmo

M- Pra mim o foco é sempre as relações

P- Por isso que você não consegue fazer o que precisa fazer quando as coisas não vão bem

M- Verdade

P- Me incomoda você ser assim

M- Sabe que já me senti incomodada por minha mãe ser assim? Quando ela tinha uma loja, contratou mais de uma pessoa pra “ser legal”. Uma sumiu, a outra roubou o caixa, e ela ficou super frustrada. Não ligava pra loja, mas queria ter recebido algo em troca, queria a amizade… e é assim com tudo.

P- Esse negócio de ter que dar algo em troca não tem nada ver. Já aconteceu de uma pessoa falar umonte de coisas que ela fez por mim e eu não lembrava o que eu tinha feito por ela, porque não fico contando essas coisas. Tem que fazer e esquecer

M- Naquele texto que eu tava lendo, falava que o trabalho do cuidado, quando bem feito, passa despercebido. Só vamos perceber quando falta.

P- É o trabalho ingrato da mãe

M- É tão necessário, tão elementar, que passa despercebido

P- O problema é que não dá pra trocar uma atitude por outra – fez comida por isso vou levar pra assistir um filme – não vai substituir nunca

M- Deixa de ser cuidado quando é troca

P- Não deixa de ser cuidado, só não dá pra trocar mesmo! Nem as mercadorias dá pra trocar, mas fazemos isso o tempo todo..

M- É incrível como a gente parece que vai se matar e de repente cai umonte de fichas. Deu pra sacar que cada um tá colocando o foco num lugar diferente. Se você não fosse tão chato não teria percebido isso…

P- De nada

M- Besta! rss

P- Se você não é honesto é porque você tá manipulando a situação. Você tem que falar o que pensa! Ou então você só observa a outra pessoa e joga com isso pro seu interesse. Como achar que o outro é cabeça dura e pensar “ele é assim” e começar a agir a partir disso.

M- Fazer a contabilidade

P- Isso

M- É.. foi dahora

P- Obrigado pelo cuidado de ter vindo falar comigo

naikan – 04 a 10 de julho/2020

Relato da minha vivência

Minha motivação para vir fazer o Naikan veio da minha saturação da presença contínua de meu companheiro na minha vida, nesses tempos “pandemônicos”  e também porque me sentia angustiada, ansiosa e mesmo irada às vezes com acontecimentos políticos de dentro e de fora. 

Chegando na Vila Yamaguishi gostei de rever o Alam e a reforma da casa de recepção, para onde foi encaminhada. Como tivemos um tempinho até a chegada da terceira participante, observei os arredores, os aposentos, admirando, olhando o “fora”.

Tivemos depois um encontro para saber o que era o Naikan com Romeu e Alam e um vídeo do Yoshimoto explicando a origem do sistema e como funciona. Pode ser feito concentrado (por 1 semana, como no caso) ou no cotidiano.

Olhar “dentro”, e lembrar fatos concretos envolvendo o eu Virgínia com as pessoas mais próximas, ( uma de cada vez ) desde o meu nascimento até o final da minha relação com essa pessoa, segundo o enfoque:

  • O que ela fez por mim
  • O que eu fiz por ela
  • Que preocupações ou aborrecimentos eu lhe causei

Para facilitar esse exame estávamos eu e minhas duas colegas em quartos individuais e banheiro idem, onde ficaríamos por uma semana isoladas do mundo exterior a não ser com o ouvidor que a cada hora, batia na porta chamando para uma entrevista, feita fora do quarto. A sua função era somente ouvir, sem julgamentos ou palpites. Apenas auxiiando para que o processo da pesquisa se cumprisse adequadamente.

No quarto existia uma cama, um armário, uma mesa com uma cadeira onde se fazia as refeições e um biombo que restringia o espaço do quarto, evitando estímulos visuais dispersores, para facilitar o mergulho nas memórias do período que se estava examinando.

Mesmo quando se ia ao banheiro ou se fazia as refeições, a pesquisa prosseguia. O foco era estar concentrado, sem se perder do Naikan, no período examinado.

Como a mãe é a primeira pessoa com quem todo ser humano se relaciona inicialmente, a pesquisa começa com ela. A mãe.

Chi ! pensei… vai ser difícil não me lembro de nada ! Mas aos poucos fui entrando no túnel do tempo e visitando situações, lugares experiências vividas com ela.  Com relação a pergunta o que ela fez por mim foi mais fácil. Mas o que eu fiz por ela… me mostrou que foi muito pouco e percebi que eu fui muito exigente quanto ao que gostaria que ela me tivesse feito e o que eu fiz, muito pouco. Também sempre pensei nas preocupações que ela me causou e agora pensando nas preocupações que eu causei, me sinto compadecida dessa mãe.  Veio um forte senso de gratidão pela mãe que me deu a vida, que me cuidou como pode, tanto tempo, até que eu pudesse cuidar de mim mesma. Percebi que com a maturidade consegui dar, fazer a ela um pouco mais. E ter consciência de que a vida é preciosa, é curta e não temos tempo para sermos infelizes com nuvens pretas que nós mesmos criamos sobre nossas cabeças.

Como eu sou muito do movimento, não paro quieta, foi difícil ficar nessa cadeira dentro do biombo. Eu levantava, tomava chá, e ia ao banheiro, voltava e sentava. Lembrava que estava de máscara, levantava, tirava a máscara e voltava a sentar dentro do biombo. Levantava, me alongava um pouco e sentava novamente. Ah! que vontade de socar o biombo! … Mais um pouquinho Virgínia, puxa vida que esforço hercúleo para me focar, me concentrar! Às vezes fluía. Parecia realmente que eu deslizava por um túnel de tempo e as paragens aconteciam me retratando as e nas relações. Isso me dava alegria e estímulo para continuar. Quando vinha o Romeu, meu querido ouvidor, eu reportava o que havia examinado e até na minha ansiedade adiantava o próximo período quando então ele me reforçava o foco. O enfoque era restrito, a cada entrevista, à um determinado período. Por exemplo de zero a seis anos, de seis a 12 anos e assim por diante até o falecimento da mãe, no caso.

Depois da mãe veio o pai. Surpreendentemente lembrei de ternos momentos com ele. Ele me fez muitas coisas e eu muito pouco para ele. Essa sensação de pobreza de mim para ele me angustiou. E as preocupações que causei ficaram claras como a figura dele no contexto cultural que vivia.  Inverteu um pouco a crença de que meu pai não foi suficientemente bom para mim ; eu não fui uma filha suficientemente boa para esse pai. Com ou sem culpa ou julgamento mas um amargor e uma tristeza no peito. Uma vontade apertada dentro do meu peito de soltar as amarras do tempo e voar para a liberdade de expressar o meu amor por ele.

Depois do pai veio o sogro, pai do meu falecido marido Furio. O seu Umberto, meu segundo pai. Amoroso, aceitador de mim total. Lembrei do muito que ele me fez. Mas também do muito que eu fiz para ele. Foi equilibrado. Foi amor.

Na sequência, o Furio. Ai, ai, ai !!! Fui muito amada. Mas me vi uma criança mimada na relação com ele. A medida da evolução, no tempo, dessa nossa relação houveram mais trocas equilibradas entre dar e receber. E também quanto as preocupações, houve mais compreensão, mais acolhimento, mais continente afetivo. Percebi que era movida muito pelo desejo, e ele pela mente. Agora o desejo é plena mente.  No sentido de ter aprendido aqui no Naikan o exercício do cérebro profundo, de ir além do reptiliano, dos instintos e desejos imediatistas e compreender objetivamente como as ações repercutem no outro e em mim também. Escolha para ter a consciência. E com isso, a paz.

Depois do pai, o filho. Focalizei a minha relação com o Fabio meu filho do meio (tive três). Também veio muita dor. O que eu fiz. Como eu fiz? Poderia ter feito diferente?? ! !  As preocupações que causei, as reações, as consequências… Se um olhar novo para o passado muda o passado… Se o fato suplanta a fantasia… Se a clareza limpa a alma…  Me sinto encorajada. Para ver, fazer, receber a vida que me resta. Que examinando os anos de 0 a 74 voaram!!!. E provaram que entre sabores e dissabores, tempestades e calmarias, eu vivi intensamente. 

Percebi que as relações são muito, muito mais importantes que as delações. Que a vida consciente e feliz é um equilíbrio entre dar e receber. Saio daqui agradecida pela oportunidade dessa revisão da minha vida, resgatando a minha história, conhecendo a minha história. O que me possibilita viver intensamente o que ainda me resta, no AMOR.

Um ótimo recurso para o auto conhecimento no “concentrado” e providencial para o cotidiano daqui para frente. Além de tudo isso, num ambiente muito agradável. Comida suficiente e equilibrada. Banho delicioso e um ouvidor atento e focado.

Gratidão.

PSE II – 9 – [08/07/2020]

Hoje eu participei do salão de leitura com o material sobre o Encontro As One (serah que o nome eh esse?).

Nao entendi direito o que aconteceu, mas foi interessante. Pareceu uma conversa de buteco de certa maneira.

 
Uma pessoa falava, a outra em seguida reagia e falava de novo, foi uma pessoa falando atrás da outra. 


Conversa sobre a dor de garganta, sobre a máquina que de gravar o som, sobre o canto da cigarra, foi tanto assunto que metade eu não entendi o conteúdo devido ao japonês. 


O que eu pensei foi que por ser um momento de encontro de conversa surge mais fácil um sentimento de segurança e as pessoas têm mais facilidade para tentar falar qualquer coisa. 


Acho que ao ir participando desse tipo de encontro, quando perceber as pessoas estão falando qualquer coisa no dia a dia. 


O pessoal que ver a video gravacao do salao de hoje acho que vai se divertir…

PSE II – 8 [07/07/2020]

Quando olhei hoje a tela que mostra o número de marmitas a serem produzidas, tinham 30 sobrando. Naquela hora da manhã, tendo soh essas 30 sobrando eu pensei que isso ainda entraria como pedido. 


Quando sobram marmitas a gente passa essas marmitas para a loja. Sendo assim como eu pensei que as 30 marmitas seriam vendidas eu concluí que era necessário produzir também as marmitas da loja. Sendo assim logo em seguida pedi para o KumaiSan fritar 40 harumaki.


Naquela hora eu esqueci completamente que era soh meu pensamento que as 30 marmitas seriam vendidas.

Conforme o tempo foi passando e as marmitas não vendiam eu lembrei que era soh uma coisa que eu tinha pensado. Quando deu 9 e meia fecharam os pedidos. Nessa hora eu olhei e vi aqueles 40 harumakis recém fritos e me deu um sentimento ruim. 


Quando eu estava na cozinha de manhã eu previ que talvez não precisasse fritar todos os harumakis e tinha deixado de propósito sem fritar. Eu olhei os 40 harumakis e pensei ainda, nessa aí foi embora o lucro de hoje. 


Pensei: nao tem o que fazer. Daí comecei a oferecer o harumaki para o povo comer enquanto ainda estavam quentes.

Come ai come ai, ta bom ein!.

Fui até a sala de preparo de verduras levar para o Fe e outras pessoas que estavam lá. Aos poucos o pessoal foi comendo e por fim não sobrou quase nada.


Sobre esse acontecido pensei 2 coisas:


1. Pensei que o erro que aconteceu foi devido ao ver o número 30 e interpretar isso como: preciso produzir as marmitas da loja. 30 sobrando = produzir a parte da loja. Acho que a falta de reconhecer que eh meu pensamento foi a causa da falha. Além disso naquela hora também tinham outros pensamentos como por exemplo, depois vai sobrar para poucas pessoas fazerem, o que é difícil; agora eh mais facil, etc. De manhã quando comecei o trabalho tinha vontade de vivificar e aproveitar ao máximo aos alimentos, mas no meio do caminho me perdi no mundo dos meus pensamentos.

2. Eu pensei que eu tinha me preocupado com o lucro, mas revendo a cena de manhã o sentimento ruim me veio ao ver os 40 harumakis recém fritos que seriam perdidos. A coisa do lucro acho que foi um pensamento que veio depois da reação.

Ao ir oferecendo os harumakis para o pessoal comer, me divertindo nessas conversas com o povo, ao ver que nao ia sobrar nada, nao iam se perder os alimentos, meu sentimento foi ficando leve. Acho que talvez minha reação de desgosto ao ver os harumakis no começo foi de pensar que eles seriam perdidos, não teria quem comer.

Agora faço várias suposições sobre como foi meu sentimento e reação na hora, mas realmente o que será que aconteceu? como teria sido se as pessoas não tivessem comido os harumakis?

tradução do material acumulado a partir de janeiro de 2020

07-07-2020
Me dei conta de que não publicava aqui no blog do ScienZ do Brasil desde dezembro de 2019, então fiquei com vontade de vir traduzindo as coisas que escrevi no blog do japão para aqui durante estes 6 meses. Nao sei se esse sentimento se mantém até fazer tudo. Acho que seja uma boa oportunidade de rever com calma o que aconteceu internamente durante este tempo. 


06-01-2020
Eh a primeira vez aqui no Japão como zelador do As One Seminário. Amanhã eh o ultimo dia.Pensei que uma pessoa que tem um coração com muita insegurança ou raiva, essa pessoa mesmo sofre muito, mas esse sofrimento não se limita apenas a ela. As pessoas em volta dela, a família, os vizinhos, os colegas de trabalho, todo mundo será afetado por esse estado de coração. Desejo que as pessoas que vierem participar do seminário aqui, fiquem com o coração satisfeito e que essa satisfação se espalhe pelos locais de onde vieram. Se me perguntar se sou feliz: diria que vivo o dia a dia divertido e de maneira leve, mas será isso felicidade? A minha felicidade individual é um desejo muito pouco ambicioso. Quero o maior desejo, a felicidade de todos..

PSE II – 7 -[06/07/2020]

Ontem no bate papo pelo what zap com o SatouSan:

Diego: quero conversar, você tem um horário?

Satou: estou livre as 4 da tarde.

Diego: se você estiver livre de manhã, eu estou livre de manha tambem.

Ao escrever a mensagem fiquei pensando: afinal o que eu estou querendo falar?

Hoje quando começou a reunião de PSE eu estava para tirar o celular do bolso quando alguém disse: alguém pode gravar a reunião de hoje? minha reação foi tirar logo a mão do celular no bolso.

Nao consegui simplesmente falar que nao estou afim de fazer a gravação, acabei escondendo o celular. 

Enquanto o Félix dormia a Ayako san começou a passar o aspirador de pó. Fiquei preocupado se ele acordaria com o barulho da maquina, mas nao me veio a cabeça conversar sobre isso com ela. 

Estou interessado no estado do eu que pode falar, se expressar e manifestar exatamente da maneira que pensa.

relato dos últimos três meses [05/07/2020]

O Sakai San (cuida dos estudantes aqui) foi internado e no seu lugar veio o Sato San (membro do instituto de pesquisa) para cuidar da gente por um tempo. Quando ele chegou ele me sugeriu entrar no curso para conhecer o si, eu aceitei e fui.

Esse curso acabou e no dia seguinte teve uma semana de pesquisa concentrada dos estudantes da academia junto com o Ono San, e quando essa semana acabou logo em seguida começou um programa de reunião diária para rever o dia a dia e pesquisar o que aconteceu em si. O resultado dessa sequencia foi puder ver muita coisa que estava mascarada dentro de mim. 

Durante o conhecer o Si, ao me preocupar com o que as outras pessoas pensariam de mim, fiquei com um sentimento muito forte de insegurança. Durante a semana de reunião concentrada, pesquisando abertamente a minha relação com a Haruka, fiquei com medo de me separar, e surgiu um sentimento muito forte de insegurança. Durante a reunião diária, novamente preocupado com o que as pessoas pensariam sobre mim, surgiu novamente o sentimento forte de insegurança.

Até antes dessas semanas eu havia passado alguns meses bem tranquilo (na verdade, nao estava verdadeiramente seguro, só isso)
Fazia bastante tempo que não passava um dia a dia de maneira instável. Por mim sobrevivi, e acho que foi bom ter tido essa oportunidade agora. 

Pois eh, trabalhando esse tempo na marmitaria, sempre com muitas pessoas para fazer o trampo, participando de varias reuniões sobre o planejamento da empresa, realizando o encontro diário de pesquisa com os outros estudantes, olhando para essa parte aparente acabei acreditando que estava indo tudo bem. 

Quando tinha muita gente para trabalhar na marmita eu pensei, nossa eu gosto dessa coisa de pensar e fazer a escala semanal de quem vai trabalhar. De repente varias pessoas deixaram de vir, minha reação foi > ahh fudeu. Reagi dentro de mim tentando culpar o Takemich i (responsável geral da marmitaria).

Algumas pessoas falavam> Diego, ultimamente você tem crescido bastante como pessoa, tem mudado muito. Eu ouvi essas coisas e acabei estufando o peito, eh claro que de repente quando veem esses sentimentos de insegurança eu encontrei o chão.
Dar importância para a parte aparente, eh isso que acontece.
As rela coes amorosas né, fazem aflorar mais coisas que o trabalho. Eu vim me relacionando com a Haruka por alguns meses e mesmo percebendo em mim varias reações, medos, não trouxe esse material para as conversas como tema de pesquisa, por que sera? Quando chegou na semana de reunião concentrada despejamos tudo de uma vez. A gente veio trabalhando junto, mas recentemente o trabalho dela mudou para a fazenda (devido a dificuldade de trabalhar nós dois juntos nesse momento). Agora que ela não esta na marmitaria que eu posso ver o tanto de energia e atenção que realmente ia para esse tema enquanto ela estava por perto. Acho que os dois na relação, se não estão em um certo minimo de satisfação e tranquilidade a partir da base do coração, a relação vira uma amarração mutua.

Eu fui no curso para estar no ponto Zero pela segunda vez. Ao voltar no mesmo dia minha barriga começou a doer e enviei uma mensagem no grupo dizendo que queria descansar no dia seguinte. Achei que não tinha nenhuma preocupação de como iria ficar o trabalho em descansar de repente. Entretanto durante a noite tive uns três pesadelos seguidos que estava dando tudo errado na marmitaria. Os sonhos são honestos. Mesmo pensando que tudo bem não ir trabalhar, mesmo sentindo calma ao pensar que tudo bem não ir trabalhar, isso não revela exatamente o estado de coração atual. Nao eh o que se pensa ou sente, não eh a parte aparente.

Ao ir no zero dessa vez  acho que percebi um pouco mais a importância de olhar `como sera que esta meu coração`ao invés de tentar estar em tal estado. Nao eh sobre pensar que na verdade nao existem coisas que devem ser feitas. O mundo da verdade não se faz em palavras, em pensamentos. Acho que se conseguir conhecer um pouco mais isso eh possível avançar mais nessa direção. 

Quero ir cada vez assim mais leve e divertido mesmo ainda tendo diversas coisas dentro de mim…

impressões do curso para “ver a partir do ponto Zero” – [04/07/2020]

Durante o curso quando sai um tema do tipo> não existe coisa que tem que ser feita.

Na minha maneira atual de ouvir>
Se eu estiver em um estado de coração que `tem que fazer as coisas`, esse meu estado é uma coisa ruim, ou
Eu ´preciso´ pensar que tenho que atingir esse estado onde enxerga a realidade.
Maneira de captar> tem que fazer, não pode fazer. Mesmo quando o assunto em questão é esse.
Dessa vez deu para ver claramente esta minha maneira de pensar.
Nao existe coisas que tem que fazer. Fico repetindo para mim essa frase dentro da minha cabeça.
Tentando ser uma pessoa que vê o mundo assim.Tentando tornar isso minha maneira de pensar.
Enquanto estiver nesse estado não é possível enxergar de maneira objetiva meu estado atual. Como eu me cobro de ser de uma certa maneira, fica impossível de ver o eu da maneira como ele eh agora. Sempre tentando ser algo diferente, tentando alcançar algum estado. Inconscientemente moldando meus gestos, ações e palavras para esta maneira de ser que acho que deve ser adequada, ou seja, me adequando a algum pensamento. 
Acho que a coisa é tentar conhecer se na base das minhas ações e palavras, estou na base de me mover pelo meu pensamento. Ou se estou na base de olhar e tentar viver pela realidade.

Tentar conhecer>
O eu que se move tendo como base meus pensamentos fixos.
Como seria o eu que se move tendo como base o Zero.
Como não é possível controlar o mundo real, não existe outra opção senão aceitar qualquer coisa que acontecer. Aconteça o que acontecer> ´aaa pode crer´, nao há nada além disso. Se estiver nesse estado de coração, acho que nao tem resistencia, nao tem luta, acho que eh o estado de coracao realmente divertido e leve.

Os temas práticos que estavam na minha cabeça nos últimos tempos>
Ouvindo as palavras do Sato San e do Sugie San me surgiram sentimento de insegurança. Se pensarem ruim de mim não poderei mais participar de tal e tal reuniao de pesquisa, ou entao vao mudar meu local de trabalho. Na base disso acho que tem> preciso crescer como pessoa (por isso preciso participar de tal e tal reunião de pesquisa). Eu preciso fazer aquele trabalho (do contrario nao conseguirei crescer como pessoa).


Outro tema>.
Quando faltam pessoas no trabalho, quando nao tem pessoas suficientes para a escala de trabalho, me surgiu uma reação de descontentamento em relação ao Takemichi (supervisor geral). Na base dessa reação tem pensamentos como `as marmitas precisam ser feitas`, ou entao `nao posso reclamar, preciso parecer sempre de boas`.


Na relação com a Haruka, ter medo de ela passar a gostar de outras pessoa, ou ter medo de ela ficar de mau humor por algo que fiz. Acho que tem na base disso `eu tenho que ficar com ela` , ou também `eu preciso ser uma boa pessoa`.

etc, etc


Em vários exemplos práticos do dia a dia, fiz a pesquisa sobre ao estar na base do Zero como seria em cada situação. Estou fazendo com base no meu pensamento ou estou fazendo com base no mundo real/dos fatos?


tudo bem não ter

tudo bem fazer, tudo bem não fazer

tudo bem o que pensam de mim

tudo bem não ser uma boa pessoa


acho que talvez deu para imaginar um pouquinho como seria o estado do ser humano que ´aconteça o que acontecer´ tem o coração leve em estado de diversao.


também dessa vez aproveitar para rever como foi para mim fazer esse curso um ano atrás, como eu estava naquele momento, quais coisas eu pensei daquela vez…