PSE II – 6 – [25/06/2020]

Hoje o menu da marmita especial foi tempura.

Sempre quando tem tempura colocamos junto um sachê de shoyu. Hoje a gente tinha decidido que não ia colocar shoyu, era um molho mais apropriado e gostoso. Como isso nao da para colocar dentro da marmita, ou a gente colocaria ele na tampa, ou a gente entregaria diretamente as pessoas no momento de entrega das marmitas. Eu tive uma conversa com o Takemichi para ver qual das duas opções a gente faria. 


Eu achei que era melhor entregar junto com a marmita ao invés colar na tampa. O que eu disse foi: se colar esse molho na tampa vai ser difícil de empilhar as caixas de marmita. Mas meu sentimento de verdade era: como colar na tampa dá trabalho acho melhor entregar diretamente. Depois de falar daquela maneira eu pensei o que será que estou fazendo?

Que tipo de visão das coisas tenho? Pensei que estou tendo uma conversa a partir da base das coisas que tem que serem feitas. 


Como eu quero evitar o trabalho de colar na tampa preciso inventar uma boa desculpa para fazer do jeito que quero.

Naquele momento minha atenção não foi para: como desejo fazer? como quero que a marmita seja entregue? minha atenção foi no sentido de me auto defender. 


Como seria uma pessoa saudável?


Acho que primeiro tentaria olhar qual seria a maneira ideal de entregar aquele sachê, qual a forma que desejo que as pessoas recebam essa marmita? 


Em seguida falaria o que pensou e deseja da maneira como eh.

No caso de colar na tampa for a maneira melhor, mas nao quiser fazer por si mesmo, falar deixando claro o sentimento como ele está. Se achar que é melhor entregar diretamente, falar que acha melhor entregar diretamente. Ao falar, depois perguntar para o Takemichi, o que você acha? Qual você achar melhor?

Ir conversando e pesquisando juntos… 

PSE II – 5 [22/06/2020]

Hoje durante a reunião de PSE eu contei que me surge um sentimento pesado quando nao tem gente suficiente para fazer a montagem das marmitas. 

Como eh uma reação que nao me da muita vontade de mostrar resolvi falar na reunião. De alguma maneira sinto que fico querendo esconder as reações que tenho durante o trabalho. O que sera isso?

Ao falar sobre essa reação o que percebi foi que dentro de mim tem algo como, eu quero fazer esse trabalho com as marmitas, esse trabalho eh divertido. Mas se as pessoas ficarem sabendo que eu fico com esse sentimento pesado quando as pessoas não trabalham, vão pedir para eu parar de fazer esse trabalho. Tem rondando um medo de que se eu falar que reajo em relação ao Takemichi, vão pensar que não sou apropriado para o trabalho.

Mais um exemplo, foi que a Haruka falou sobre um exemplo dela em relação a mim, no momento em que ela falava eu percebi que eu reagi olhando para o Sakai San para ver como ele ouvia a conversa. Tem um medo de que se ele ouvir essa conversa depois ele vai falar que eh melhor mesmo eu me distanciar dela. Que nao estou pronto para ter uma relacao assim.

Um terceiro foi o SatouSan me disse algo como, antes de você ir para o curso do Zero seria legal você perceber mais as próprias reações. Ao ouvir isso minha maneira de ouvir eh: eh melhor a gente deixar queto esse curso do Zero agora.

Olhando para estes três exemplos, algo que acho que tem em comum é que tem um medo de que nao deixem me fazer as coisas que penso que quero fazer.

Bem no finalzinho da reunião o SatouSan falou sobre sera que nao existe um estado de estar que mesmo tendo as coisas que quer fazer, quando nao consegue fazer não se sente insatisfeito?

O estado do eu agora, se nao acontecer o que estou planejando desejando logo fico inseguro/insatisfeito.

Mesmo compreendendo isso na teoria, meu estado de coração reage a essas coisas assim agora. 

PSE II – 4 [21/06/2020]

Hoje de manhã, já se passavam das 11 hs quando a Yuka chan perguntou se ainda ia demorar para fazer as marmitas de manhã, eu respondi dizendo que sim. Até ela perguntar eu estava trabalhando tranquilão, mas depois disso me deu um sentimento de preca.

A partir daí entrei no mundo dos pensamentos onde comecei a pensar que não tinham pessoas suficientes para o trabalho. Depois de um tempo nessa reação, pensei, agora estou aqui só passando o pano no chão, e voltei ao agora. 


O que eu ouvi foi: demora para fazer as marmitas?


Qual foi a maneira que captei essa pergunta?

Foi como se ela dissesse: se não terminar logo essa marmita da manhã, as marmitas da tarde vão atrasar, ou então, faz logo essas marmitas! ou outras maneiras de captar também podem ter havido, mas nao sei direito como que foi. Mas acho que foi alguma reação onde eu acho que tenho que fazer o trabalho logo.

Naquela hora estava fazendo a limpeza, ou seja, algo que devia fazer logo. Esse pensamento não me veio a mente em palavras, mas o corpo começou a se mover rapidamente e o sentimento de plenitude disse bye bye.


Como seria no caso de uma pessoa saudável?


Pensei que eu vejo as marmitas da tarde sem serem coisas minha, sem relação comigo.

Ouvi a pergunta dela e logo em seguida entrei no mundo dos fazeres. A atenção não foi para o sentimento dela. Poderia ter dito algo como: essa limpeza agora está atrasada, vamos fazer juntos? depois a marmita da tarde eu ajudo também. Por fim ela acabou começando a montar as marmitas enquanto ainda estava rolando a limpeza. Eh uma coisa que eu nao tenho vontade de fazer assim, mas tambem nao pensei em conversar isso com ela na hora. Poderia ter dito algo como: espera acabar a limpeza, depois a gente faz as marmitas.


Outra cena.


Depois de almoçar eu falei com a Junko Chan que estava sentada no escritório. Eu perguntei meio que na brincadeira se ela não toparia entrar na linha de produção, mas ela conversou super sério sobre essa pergunta. Achei interessante que mesmo eu falando meio que de brincadeira ela se voltou para o meu sentimento que estava atrás desta minha maneira de falar, fiquei pensando: será que isso que eh voltar a atenção para as pessoas?

PSE II – 3 [20/06/2020]

Hoje de manhã conversando com o Takemichi, ele disse para eu liberar o Yoshi logo da produção para poder fazer a entrega, eu respondi dizendo que se ele sair agora vai ficar difícil para as pessoas que sobram. Ao ouvir isso ele me diz o conteúdo do porque querer que eu libere logo o Yoshi.


Ao voltar para casa pensei em rever como foi aquela cena de manhã, mas logo em seguida me vem à cabeça que nao posso escrever isso no blog. Ao perceber essa minha reação tentei olhar qual o conteúdo.

Parece que tem algo sobre ser melhor não escrever no blog coisas sobre o Takemichi (responsável geral). O que será que ele vai pensar sobre mim? o que será que as pessoas que lerem vão pensar?

Acho que estou preocupado com algo em relação a esse sentido e então resolvi escrever no blog. Percebo que ao escrever vou escolhendo as palavras…


Tentando pensar sobre o ponto de vista: como seria esse caso para uma pessoa saudável?


Acho que primeiro de tudo conseguiria rever a cena de manhã sem se preocupar com nada.

Sem pensar se vai escrever ou nao no blog, apenas de tentar olhar de maneira pura e sincera como serah que estava o eu naquela situação? Depois disso se ficar com vontade de escrever, poderia escrever apenas com o sentimento de que as outras pessoas soubessem o que está acontecendo. Poderia surgir um sentimento de que as pessoas em volta pudessem ver de maneira objetiva o eu que eu mesmo nao consigo ver.


Mais uma coisa que percebi eh que, me sinto seguro no trabalho porque as marmitas estão produzidas dentro do horário porque tem pessoas suficientes para trabalhar, acho que eh uma segurança condicionada as coisas de fora, estou na base do fazer.


Acho que chegou na hora de dar o próximo passo…

como será que eu vi, ouvi e reagi?

Estive agora na reunião dos estagiários. O Sato san estava de staff. No começo achei ele agitado, até pensei “será que ele bebeu?” O que não seria nenhum problema, só achei engraçada a ideia.
Depois o Ushimaru san colocou um exemplo dele que achei bem interessante e o Sato san começou a analisar esse exemplo com o Ushimaru san, de uma forma que eu também achei interessante. Mas chegou também uma hora que eu pensei que eu não consigo acompanhar o ritmo do Sato san. Tentei falar alguma coisa também, mas nada que seria muito claro para mim também, e no fim saí da reunião com essa sensação de “não faço ideia de que se trata aqui, é tudo muito rápido”.
Como será que eu vi, ouvi e reagi?

reagindo a memórias

Fui lá apenas para levar o controle remoto da tv que estava comigo, não estava usando mais, ela estava precisando.

Chegando próximo da casa, estava uma mãe com o filho que mora na casa vizinha passeando, dei um oi, ela deu oi, (por dentro: hum… não queria ser visto por ela).

A porta da casa dela aberta, fui entrando:
– oi, trouxe o controle remoto.
(por dentro: é só entregar, rapidinho vou embora)

Ela aparece lá do fundo: 
– ah, obrigado ! eu quero ligar a TV, me ajuda deslocar o rack para colocar a tomada?
(por dentro: ok, é só ligar a tomada, faço rapidinho, vou embora)

– Ok, deixo ver…
É pesado, com um dificuldade, consegui deslocar. Mas parece que não é apenas ligar, parece que ficou muito tempo sem usar, está desregulado…
(por dentro: hum… isso vai levar tempo, não quero ficar muito tempo aqui..)

Ela: – Como faz para ligar?
Eu: – Muito complicado, não dou conta disso…
(por dentro: quero ir logo !)

Eu: – Tchau, preciso ir…

Cada fala, cada gesto, cada movimento, suscita emoções não agradáveis, significados formados.

PSE II – 2 – [19/06/2020]

Vi uma cena do Félix falando para a Haruka que a roupa dela era bonita, me deu uma reação de desgosto/ciume. Uma maneira de captar mais ou menos como: esse fdp tá querendo roubar minha mina. Como eu acho que reajo bastante com relação a esse tipo de coisa resolvi falar sobre isso na reunião do PSE.


O Félix me ouviu falando sobre essa cena durante a reunião do PSE e disse: velho eu falei que a roupa era velha. Ao ouvir isso eu fiquei com vergonha e resolvi escrever no blog também. Como será que estou vendo a Haruka? Como será que estou vendo o Felix?


Ouvindo outras conversas do Félix durante o PSE me da umas reações do tipo: ta falando merda velho. Percebi que estou reagindo também bastante nesses casos em relação a ele.

Acho que tem esse tema de como vejo ele, mas tem também como será que estou me vendo? Ao trabalhar na marmitaria, ou ao pensar que faço parte do terceiro estágio da Academia, qual sentido que estou dando para essas coisas?

O Sato San, ou o Sugie San, membros do instituto de pesquisa do ScienZ, por exemplo, como será que estou vendo essas pessoas?

Visão de ser humano

Visão de sociedade

Visão das relações amorosas


acho que tenho bastante dever de casa…

PSE II – 1 -[18/06/2020]

Ontem começou mais uma rodada das reuniões do PSE. Dessa vez nao serao encontros diários, serão encontros de 2 horas duas vezes por semana. Entre esses dois encontros semanais cada pessoa deve por si mesmo fazer a auto observação e rever os processos do dia a dia.


Hoje voltando do trabalho eu separei um tempo para rever como foi meu dia, mas não vinha muita coisa na memoria, tava sem material de pesquisa. Agora a pouco fui na reunião semanal de pesquisa da academia e ao ouvir a conversa das pessoas naturalmente brotaram várias cenas do dia na cabeça, de um dia e até dois dias antes, fiquei pensando o que será que acontece?


Quando tem alguma reação mais forte ela fica gravada na memória, nestes casos é fácil usar como material de pesquisa. Mas no dia a dia tem várias cenas em que o pensamento fica duro/rígido, cenas em que fico atribuindo sentido às palavras das pessoas, como que sera que posso fazer para ficar mais acordado para cada uma dessas reações no dia a dia?

Conversa que flui/transmite [17/06/2020]

Naquele dia tive uma reuniao com o Takemichi e o NaikanSan, o Nakaisan falou o que ele estava pensando sobre o diálogo entre as pessoas. Não lembro exatamente o conteúdo, mas ouvindo, o que ficou marcado foi que: o Nakai san não estava falando elaborando alguma teoria sobre o diálogo das pessoas, para mim pareceu que ele falou apenas o que veio na cabeça naquela hora. Era algo sobre as pessoas se satisfazerem na conversa, parecia ser o cerne de uma conversa.


Minha impressão foi que ele falou a partir da visão de mundo que ele tem. Pensei que quando as pessoas conversam entre si não é possível transmitir nada além do que cada um tem de visão de mundo. Por mais que seja uma bela e impressionante teoria/pensamento, se nao for o jeito que a pessoa enxerga as coisas acho que não transmite nada. Acho que a conversa mais apropriada é apenas o que aquela pessoa está pensando e sentindo naquele momento. Mesmo que não seja uma conversa muito alegre, ao menos a partir disso se conecta com a outra pessoa…

Diário de quarentena, ep.1

eu e Rafael numa precária disputa de rimas, Pedro assistindo. André tirou a foto.

Desde março, estou ficando direto em casa, por causa da quarentena. Continuo tendo aulas pela internet, mas interrompi o trabalho. Por isso, estou tendo bastante folga para bolar os dias do jeito que eu quero e também com tempo para refletir. Aqui em casa estamos convivendo intensamente, eu o Rafael e o Pedro. Pela primeira vez conseguimos realizar nosso plano inicial de fazer as refeições juntos, a faxina juntos (que antes era feita por uma faxineira), conversar com calma e descontrair.

Antes da quarentena, estava saindo com o André, que veio então passar um tempo comigo aqui em casa. Ao receber mais uma pessoa, nos desorganizamos de novo. Passamos a nos dividir em duplas, eu com André e Pedro com Rafael, e o clima ficou pouco amigável. De início pensei que os meus companheiros de casa estavam indispostos comigo porque deixei de fazer as coisas que costumava fazer para dar atenção ao André. Realmente isso incomodou, mas, olhando agora, meu ponto de vista é o de que essa separação em duplas foi o maior incômodo. Para mim também foi, porque me senti mediando a relação da “visita” com os “moradores”, foi desgastante. A partir do momento em que fizemos essa divisão interna, ela só aumentou, porque uma dupla se sentia atacada pela outra e vice versa. Eu tinha um aliado e dois inimigos. Nesse clima, as reuniões foram super conturbadas, ninguém se entendia.

Para mim, deveríamos começar a falar dos nossos sentimentos para que alguma coisa começasse a fazer sentido. Mas isso foi recebido como algo invasivo e forçado. Falei que estava sobrecarregada em fazer essa mediação; parecia que tinha que estar sempre atenta para agradar a todos, ou melhor, para não desagradar ninguém. Ao falar isso, o clima melhorou um pouco. Então seguimos. Até que, depois de 2 meses na casa, achamos melhor o André ir embora. Quando fizemos a reunião de balanço da estadia dele, descobri que tanto o Pedro quanto o Rafael não gostaram nem um pouco do André. Estavam o tempo todo disfarçando, tentando ser legal, e por isso ficaram muito cansados também. Depois desse episódio nos unimos ainda mais e melhor. Passei a fazer as tarefas da casa e dar atenção a eles com prazer e não mais por obrigação.

Esse foi o relato, mas o que eu queria mesmo escrever, para pensarmos juntos, é sobre “conversar” e “fazer grupo”.

Sobre o conversar, percebi que para falar do sentimento é preciso ter um ambiente adequado. Eu estava ignorando isso e querendo que eles falassem de qualquer maneira. Quando se sentiram à vontade, após a saída do André, não precisei mais pedir que falassem de si, porque já estavam fazendo isso espontaneamente. Também não sentimos necessidade de fazer reunião, porque estamos conseguindo decidir e falar o que precisa, sem cerimônias. Até um tema “tabu” (que deu briga em reunião), que era sair de casa para ver um date, foi falado tranquilamente no almoço. O que possibilitou/impediu que esse ambiente se formasse? Penso que foi isso que estou chamando de “fazer grupo”, que estou sentindo aqui, mas não sei muito bem o que é. Acho que tem a ver com o seguinte: me senti grata por eles terem “aguentado” o André por minha causa, então tenho feito comidas bem caprichadas para retribuir. Ao comerem, ficam felizes e querem retribuir também. Estamos nesse ciclo de presenteio mútuo. Será que é isso que cria o grupo?