Mês: abril 2022

Quando cheguei aqui nos primeiros dias o Miguel não esteve por dois ou três dias.

Minha refeição era só de arroz e ovo.

Depois a gente começou a almoçar e jantar todos os dias juntos. Surgiu em mim uma vontade de cozinhar alguns legumes, algumas coisas, mesmo que simples e poquinho.

Só para eu comer não surge essa vontade/energia. Teve vez de a gente comer também e passar a refeição sem conversar, mas só de ele estar presente a comida também fica mais gostosa.

Achei interessantes estes sentimentos que são puxados de dentro de mim pela outra pessoa.

No trabalho também, qual o objetivo do trabalho? Para que usar o trabalho? O trabalho que torna as pessoas mais próximas umas das outras, o trabalho que faz brotar e crescer nas pessoas uma relação de intimidade, como será isso?

Eu e Miguelito. Preparando a casa nova das galinhas. Desmontando os ninhos antigos, reaproveitando os materiais que permitem, transportando e guardando por aqui e ali.

Em dado momento quando vamos transportar uma carga o Miguel pergunta: que tal a gente olhar o lugar onde vamos colocar as coisas antes de carregar?

Não não, não precisa não. Respondo eu.

Dentro de mim já tem a resposta pronta. Já tá tudo combinado comigo mesmo.

O que será que a outra pessoa quis dizer, será que meu interesse vai na direção da outra pessoa?

A noite arrisquei um misoshiru, será que vai tá bom? 🙂

Hoje o Miguel voltou do final de semana com a família, fizemos um rango juntos agora a noite. Tentei fazer uma bardana estilo que eu costumava cozinhar na marmitaria da As One, mas sem receita achei meio fraco. Miguelzão mandou uma calabresa acebolada e comemos com arroz de japa.

Ficamos conversando com calma, cada um colocando as coisas que tem pensado ultimamente, coisas que estamos pensando em fazer juntos aqui. No meio da conversa surgiu um papo sobre o estado de autonomia. Será que me estou me movendo pelas coisas de dentro de mim (sentimento genuíno) ou pelas coisas de fora(pensamentos fixos)?

Como será que está o eu agora? Será que consigo apenas olhar para este eu como ele está agora?

Foi um tema que fiquei com vontade de trazer para essa semana. Tentar olhar no dia a dia nos exemplos práticos: como será meu sentimento genuíno, como quero fazer, que pessoa gostaria de ser?

Ontem a tarde a Marceline disse que queria mover algumas galinhas de lugar e queria começar as 6:30 da manhã porque elas estão mais calmas.

Perguntaram se não podia ser depois da reunião das 7hs da manhã. Eu pensei dentro de mim: depois da reunião é melhor, dá para ir mais tranquilo de manhã.

Ficou de fazer as 7:30hs. Quando fomos fazer estava no horário das galinhas iniciarem a postura. Então eu pensei: putz isso aqui vai estressar elas agora, queria ter feito as 6:30 da manhã.

Fico pensando que ao trabalhar com as galinhas no fundo não quero fazer do jeito que penso, mas no fundo que atender as necessidades delas. Quero me usar para satisfazer elas, acho que isso é uma das coisas.

Depois na parte da tarde fui dar ração, naquela hora fiquei pensando em entrar e sair do galinheiro sem que elas tivessem me percebido. Foi um sentimento que parece ter surgido naturalmente dentro de mim, não algum pensamento como devo fazer assim ou assado.

Trabalhar se movendo apenas pelo que vem de dentro, como será?

Hoje foi o primeiro dia aqui em Jaguariuna na As One Brasil. Logo de manhã começamos as 7hs nos reunindo e lendo um dos textos recentes do ScienZ, que se chama “imagem de ser humano”. É um texto que nos faz refletir e pesquisar dentro da gente sobre como é uma pessoa no seu estado original, como será a relação das pessoas neste estado.

Depois desse warming up, fui trabalhar com o Miguel e aproveitamos para colocar o papo em dia, o que cada um está pensando atualmente. Depois de algum tempo chegou o Milton e no intervalo começamos uma conversa sobre a criação de galinhas no método Yamaguishi, um pouco sobre essa história. De manhã concertamos os cochos de alimentação das galinhas, a tarde começamos a desmontar os ninhos que estão velhos para reformar o barracão e iniciar uma criação a partir do Zero (não só fisicamente).

Fiquei pensando sobre o trabalho e a satisfação (felicidade) das pessoas.

Para que que serve o trabalho? O trabalho é um meio, mas um meio de realizar o que? O que buscamos ao trabalhar?

Ao observar os detalhes da construção dos cochos e ninhos das galinhas, me parecem verdadeiras obras de arte. Cada qual com uma série de detalhes para atender as necessidades das aves, promovendo conforto, higiene, facilidade para quem trabalha. Mas todas essas qualidades acho que só se manifestam com uma construção muito detalhada e carinhosa de cada peça do material.

Acho que para conseguir realizar esta construção não basta apenas uma técnica e habilidade, acho que para atingir esse nível de construção já se faz necessário uma pessoa com estado de coração satisfeito. Quanto mais satisfeita a pessoa que trabalha, maior a qualidade do produto do trabalho, mais a pessoa vem a se satisfazer.

Acho que talvez o trabalho seja um meio de se avançar neste estado de satisfação.

Será que consigo usar meu dia a dia aqui para ir nesse sentido?

Hoje cheguei aqui na As One em Jaguariuna. Faziam 5 anos que não vinha até.

Fazem 15 dias que cheguei no Brasil, passei esse tempo encontrando meus pais, parentes e alguns amigos da escola.

Foi uma oportunidade legal, principalmente em relação aos meus pais. Percebi que há em mim um mind set de reação em relação a eles. Por exemplo, minha mãe pergunta, que tal você experimentar essa roupa? Já surge em mim uma resposta pronta: não quero, não preciso.

Não há espaço para voltar meu olhar para a pessoa: será que ela está apenas me oferecendo uma roupa? no fundo o que será que ela que? Não há tempo de olhar a pessoa, dessa maneira também não recebo de maneira livre o sentimento dela por mim.

Percebi esse meu padrão e fiquei me observando nossa relação durante esse tempo. Ao perceber esse estado do eu agora sinto que ele vai mudando com o passar do tempo. Enfim.

Vim para cá, a principio fico até o final de junho, mas na reunião de recepção que fizemos hoje a Kayo disse que gostaria que eu ficasse até julho para fazer uma atividade. Não tem nada definido ainda, mas na hora fiquei com vontade de fazer.

Eu tenho essa passagem de volta para o Japão, mas o tempo que estiver aqui quero ser “uma pessoa desse lugar”. Imagino que mesmo querendo a coisas dentro de mim: pensamentos, sentimentos, etc que talvez não permitam esse ser/estar logo de cara.

Acho que será um ponto a se ver.

Amanhã começo o dia a dia na prática. Fico animado de fazer o dia a dia aqui com o Miguel, e também ter o Lucas com idade próxima da minha.

Vamos ver como vai ser 🙂