última reunião do ano

tenho pensado bastante sobre fé. um amigo meu se converteu para o catolicismo, e isso está girando bastante na minha cabeça. me atrai a ideia de ter alguma coisa para acreditar, coisas mais ou menos fixas que lembrem de uma coisa maior mesmo quando a gente está perdido em sentimentos e pensamentos mais mesquinhos e ansiosos e não sei mais o que. nessas horas parece que a gente perde o norte e parece bom a ideia de ter rituais e formas de pensar que meio “garantam” voltar para lá. por outro lado, me dá bastante desgosto essa ideia toda de que “tem que acreditar”, que “é verdade”, parece que tem qualquer autoridade, qualquer enganação no negócio.

na reunião hoje veio um pensamento que eu gostei bastante. não sei se deu para entender, ou talvez eu falando escrevendo agora seja um pouquinho de preocupação de que todo mundo tenha entendido meu pensamento que eu achei legal.

mas o pensamento foi de que o tchan da coisa toda de organizar as relações ao redor das pessoas, de pessoa com pessoa, tem a ver com essa coisa do zero mesmo. a gente nunca vai saber fazer isso. e mesmo qualquer definição de pensar “ah, acho que fazer desse jeito é melhor do que daquele jeito” “eu penso assim e isso me aproxima ou me afasta do outro” “vou fazer isso aqui porque eu quero estar perto das outras pessoas”, tudo isso não tem nada a ver com a experiência de encontrar a outra pessoa. encontrar a outra pessoa acontece a cada momento. encontrar a outra pessoa na verdade também tem a ver com uma relação com as coisas, pq parece que não existem propriamente coisas sem pessoas. a panela ganhou de presente de alguém, ou está cozinhando para alguém, ou quando cozinha está cozinhando em retribuição à outra pessoa que cozinhou no almoço, ou pelo amor que essa pessoa sempre te deu ou só porque você é realmente muito magnânimo e está fazendo isso sem razão nenhuma só por fazer (rs). No fundo sempre é relação com a outra pessoa, e com todas e com todo o universo.

entrar nesse fluxo é entrar nesse fluxo. sinto que eu coloco várias barreiras e porquês para fazer isso. e as vezes pensando que estou tentando fazer isso de entrar em relação com as outras pessoas, tô não fazendo isso (“o que será que eu devia fazer da vida para conseguir estar aberto me relacionando com as pessoas?”, penso eu enquanto minha vó assiste TV do lado, e minha mãe trabalha no computador, meu pai faz janta na cozinha).

parece que o fluxo de estar presente, na realidade, escapa a todas as perguntas. a resposta de qualquer pergunta é a resposta que faça ela sumir e voltar a atenção pra como está agora, o que está acontecendo, qual a intenção dentro de si.

eu sinto medo, porque (além de todas as outras milhões de respostas que eu poderia colocar aqui) parece insuficiente, pra tocar a vida, só estar atento com o que está dentro. precisa saber para onde vai, o que está fazendo, aonde quer chegar. mas parece que segurar essas perguntas um pouco para deixar ficar e ver como está, e agir mais a partir de onde está na realidade, vão surgindo mais respostas do que quando busca resposta.

é muito doido que essa coisa que a gente mais busque seja uma coisa que não se faz, mas que só se chega. se tentar fazer, já não tá fazendo. ao mesmo tempo, graças a Deus, existe uma pista no coração, existe mesmo. qualquer coisa que não seja esse estado, cedo ou tarde, dá um esquisito na língua.

acho que é por isso que as vezes da vontade de virar católico, ou comprar um terreno na comunidade da Ilana. queria garantir que tô no caminho certo, que não vo ter sempre amargo na língua. mas parece que é só uma questão de ter fé e ir navegando, sempre sempre. seja sendo católico ou na comunidade ou no emprego CLT.