Curso para Conhecer a Si – fevereiro/2022

Curso para Conhecer a Si – fevereiro de 2022 – Miguel Atensia.

Busco nas minhas lembranças, recordações de tantos cursos, concentrados, Vila Paraísos, rodas e mais rodas conversando, ouvindo, pensando, refletindo e observando… Mas será que estava em algum momento pesquisando? Estou saindo dessa vez me perguntando isso de verdade.
Porque talvez eu não estivesse pesquisando com autoconsciência de que fato sou livre.
Mesmo agora isso não está na barriga. Estou me observando agora, parece existir uma animação aqui ao perceber isso. Será que daqui pra frente vou começar a pesquisar mesmo?
Sabor e frescor.
Mas calma. Sem me apressar. Não sei se estou lá ainda.

E tudo bem.

Mas enxergo um caminho cada vez mais claro. Nesse período de um pouco mais de um mês em que fiz Seminário As One, Curso para Auscultar a Pessoa, “start” da nova avicultura e agora esse Curso para Conhecer a si, foi muito, muito intenso para mim. Passar essa fase de transição de vida fazendo vários cursos trouxe muito material. Mudar de cidade, deixar um emprego de 10 anos, ficar a semana longe da Aninha e do Cae, vir morar aqui na vila…
O tema do abandono veio muito forte, as coisas estão saindo da caixa preta e recebendo luz.
Acho que isso foi o mais importante. Usar o tema que está mais sensível e poder botar para fora e ver como tudo que estamos pesquisando sobre o funcionamento de nós mesmos se aplica a eles. Isso ajuda a trazer para carne, uma compressão o que não é só na cabeça.
Então vou podendo observar o que até agora estava obscuro e me afetando sem saber.
São essas coisas que me prende.
Não tem nada fora em mim me prendendo.
Essas coisas que fui juntando aqui ao longo da vida e que fazem com que hoje eu acredite que é real as coisas que eu “tenho que fazer”, que eu “não posso fazer” ou “deixar de fazer”.
Alimentando relações com base nesses medos, me movendo com medo e querendo evitar as situações que me assustam.
Ao longo dos dias vieram esses exemplos concretos:

– Percepção da Aninha como algo fixo. Percebi que tomo como fixo as ideias e imagens que formo dela afirmando pra mim mesmo “Ela é assim!”. Mas na verdade eu não faço ideia do que realmente está se passando lá com ela… Deu vontade voltar minha atenção para o que está se passando com ela a cada momento, não na Aninha fixa do meu pensamento, mas na aninha “acontecendo”… Isso traz leveza. Vontade de auscultar

– Sentimento de abandono e sentimento de “não posso deixar de cuidar do Cae”. Por que travo? Com tanta força? Estou reagindo a que? Olhando com calma e com o ouvido/coração das pessoas da roda começa a vir lembrança da fase em que meus pais se separaram, a noite que fiquei sozinho com a minha irmã no apartamento do meu pai. A briga no bar em frente, o medo, o abandono que senti naquela noite.
O pacto que fiz comigo mesmo: “não vou ser um pai assim”! No dia a dia, não me lembro de nada disso, mas essas feridas atuam em mim hoje como se fosse soco no momento presente.
Parece que se eu não estiver presente, meu filho vai sofrer e se sentir abandonado, assustado, sozinho como eu me senti naquela noite.
Tudo isso é um pensamento com fortes emoções, pois parece real que isso vai mesmo acontecer. “Factualizo” um futuro que não existe, de um medo que vem de um passado que não existe mais.
Enquanto isso fica se passando aqui dentro fica impossível perceber o que realmente quero.
Agora eu começo a ver que quero ter uma relação com o Caetano como ele é a cada momento. Ser um ser humano saudável se relacionando com ele, sem feridas no coração. Me movendo com leveza e liberdade. Ele podendo se mover pela vida inteira com liberdade. Eu quero isso também com a Aninha. Nós três nos relacionando como os seres humanos que somos e com leveza.

– Outro tema é o equilíbrio entre suprir as necessidades e a galinha soberba.
Para um ser humano se desenvolver com saúde emocional e segurança é importante não faltarem por longo período os nutrientes essenciais. Nutrientes para o corpo e para o coração.
Qual é a quantidade adequada?
Qual é o momento adequado?
Qual o período de tempo adequado?
Exemplo. A galinha que fica muito tempo sem beber água depois bebe muito mais água do que precisa. Por outro lado tem também a árvore que recebeu muito esterco perto do tronco e ficou com raízes fracas e toma com chuvas fortes.

– Isso leva ao outro tema para seguir pesquisando, eu e a minha solicitude. Atendo muito rápido o que as pessoas pedem. Principalmente Aninha e Caetano.
E tudo que vou fazendo vai virando óbvio e no meio disso me atropelo sem perceber. …Tem algo aí para olhar.
Pois no fundo quero atender os desejos do coração e vê-los felizes, mas não está parecendo que estou me movendo em contato com os desejos deles mas pelo o que eu posso fazer para manter tudo em ordem, uma parente segurança em estar cuidando das coisas, me esforçando para que eles não fiquem bravos, se frustrem, fiquem tristes.

Enfim… Nossa! Muitas coisas vieram à tona.
Estou animado de poder olhar para tudo isso e me soltar um pouco mais das coisas que fico me agarrando aqui dentro.
Então voltar minha atenção para o real.
Quero preparar no meu coração a relação de família com as pessoas aqui na vila também. Para poder receber quem quiser fazer junto no futuro.
O que eu estou recebendo das pessoas aqui é essencial para conseguir tornar as coisas mais claras, meu coração mais leve e saudável.
Vai abrindo espaço dentro de mim, possibilidades vão surgindo e vou me aproximando do desejo mais profundo e sincero que opera a todo momento aqui dentro. Quero ir nesse sentido para ir realizando esse lugar onde qualquer pessoa possa ser como é.

Curso para Conhecer a Si – by ikawa

( Conhecer – Como é / O que é o Real – A Realidade)

Pode-se dizer que o “conhecer” é o trabalho de tentar conhecer “como é o real (a realidade)”?

Os animais que não sejam humanos, ou bebês até a idade de serem humanos, podem não ter a consciência clara.

Penso que acontece o trabalho usando ao máximo estas percepções em direção ao mundo exterior, tentando conhecer “como será o real ( a realidade) ?”

“Conhecer /tentar conhecer” é uma função ou desejo básico que os animais normalmente têm para viver, será que podemos dizer que é um desejo básico que não cessa enquanto estiver vivo…?

Ao pensar sobre isso, a situação (fenômeno) (nos humanos) de que o desejo básico de saber “como é o real (a realidade) ?” pára depois de se tornar “achar que conhece, achar que entendeu” é estranha ou anormal.

Como a causa disto é que perdeu a capacidade de distinguir “o pensamento do ser humano (si)” e o real, essa é provavelmente a grande razão. …


Compreensão conceitual + autopreservação ⇒ levando ao conhecimento (“conhecer” e “tornar-se”)

Se permanecermos na compreensão conceitual (interpretação/análise), ela se desvanecerá e desaparecerá.

“Conhecer” significa mastigar, digerir, absorver e tornar-se incorporado (fruto real).

Alcançar o conhecer, isto é, para que compreensão conceitual “alcance o conhecer”, sinto que a auto observação está envolvida(ser uma questão de auto observação)

* “Entendimento conceitual + autopreservação” aqui é uma forma de conhecer, isto não é tudo…

Nos cursos, em salões e em diversas reuniões, vai investigando “O que isso significa?” ou “O que será que está acontecendo?”, mas se a auto observação é fraco e não levado a sério, não vai ser capaz de vê-lo como algo dentro de si mesmo, e mesmo que esteja pensando que está usando sua cabeça para investigar algo, no final só aumentará o que está fora (conhecimentos e informações), e só “vai ficar achando que conhece” e “vai ficar achando que entendeu”, não se tornará incorporado (fruto real) … o interior não vai mudar, o mundo onde mora também não vai mudar..

知るためのコース雑感①(知る≒実際はどうか)

「知る」というのは、先ずは「実際はどうか」と知ろうとする働きと言ってもいいのだろう
人間以外の動物には、あるいは人間でもある年齢までの乳幼児には、ハッキリとした意識はないのだろうけど
いつも周囲外界に向けて、その感覚を駆使して「実際はどうか」と知ろうとする働きは起きているのだろうと思う
「知る・知ろうとする」というのは、生きていくため、動物に普通に備わっている機能というか基本的欲求、それも生きている限り止まることのない基本的欲求と言ったらいいだろうか・・
そう考えると、「知ったつもり・分かったつもり」になって「実際はどうか」と知ろうとする基本的な欲求が停止するという(人間における)事態(現象)は、不思議というか異常というか・・そのことの原因としては「人間(自分)の考え」と「実際」との区別がつかなくなってしまっているというのが大きいのだろう・知るためのコース雑感②(概念的理解+自己観察⇒知るに至る)


知るためのコース雑感②(概念的理解+自己観察⇒知るに至る)

概念的理解+自己観察⇒知るに至る(「知る」と「そう成る」)

概念的理解(解釈・分析)に留まると、それはいつしか薄れて消えていくのだろう
「知る」とは、咀嚼して、消化して、吸収して、身(実)になるということ

知るに至る、つまり概念的理解が「知るに至る」つまり「身(実)なる」には、自己観察いかんにかかわる・・そんな気がする

*ここで言う「概念的理解+自己観察」というのは、知り方の一つで、すべてではないけど・・

コースやサロンや各種ミーティングなどでは「それはどういうことか?」とか「どうなっているのか?」と探っていくのだろうけど、自己観察が甘いと、そのことを自分の中のこととして捉えられず、頭を使って何か探究しているつもりでも、結局は外のもの(知識や情報)が増えるだけ、また「知ったつもり・分かったつもり」になるだけで、身(実)にならない・・内面は変化しない、住む世界も変わらない

21o. SeminárioAsOne – impressões

1. Minhas motivações para fazer o seminário.

Alexia Lorrana foi minha companheira de quarto por dois longos, afagos e profundos anos. Deixou marcas em meu coração e tem muitas memórias na minha mente. Alexia foi a disparadora de perguntas que me iniciaram em uma busca sincera e real por mim mesmo, pela vida, pelas pessoas pelo mundo. Pude comungar com ela do tempo em que ela começou a conhecer a Rede As One e sempre fui seu confidente sobre as pesquisas feitas aqui dentro.

Olhando para trás, pro nosso quarto de uma singela casa do Bairro Barão Geraldo, vejo uma alma que de mãos dadas comigo se aventurou pelas veredas de si, que ousou olhar no espelho – e olhar fundo – e encarar a própria sombra. Foi ela meu impulso, minha coragem, meu modelo e meu convite para estar aqui hoje, frente a frente com fantasmas e estátuas de mim mesmo.

Doce gratidão.

Vim até a Vila, mochila às costas, entrar caminhando com os meus próprios pés, me trazer aqui (não sozinho, mas só) foi importante. Quis me afastar por uma semana da vida insanamente corrida e cansativa que vinha levando nos últimos seis meses. Me desligar do mundo virtual selvagem, silenciar a boca rotineira já conhecida, que sempre fala as mesmas coisas. Me encontrar comigo mesmo. Me limpar. Ter ainda mais coragem de me olhar
profundo
inteiro
quebradiço
faltoso
borbulhante.

Olhar minhas pegadas na areia do meu próprio tempo e analisar as casas que construí com o que me foi ofertado pela vida. Vim por tudo isso. Com sede de mim mesmo. Vontade (e medo) de dissecar minhas emoções como uma criança disseca um inseto, com essa mesma vida e terror e curiosidade e assombro.

Vem em busca de um olhar radical.

Não tinha ideia de que encontraria.
Me assustei com o que vi.
Tive raiva.
Neguei
Vi não haver saída.
Coadunei.
Entendi algumas coisas e tantos mais.
Vi mapas.
Refiz trajetos.
Gritei por dentro.
Dancei por fora.
Procurei inquieto.
Acho que achei algumas pistas.

2. Coisas que percebi, refleti, descobri durante a semana.

E lembrei quem eu sou e me espantei ao conhecer um corpo – mente ligeiramente diferente do que costumava ser.
É trabalho duro se olhar.
Me vi, que há.
Sinto saudades das músicas.
Uma estranha falta das mil-distrações que buscamos [dia a dia].
Queria que a vida fosse como essa caneta que se permite apagar.
Serena.
Sensata.
Resoluta.
Vi nessa semana em mim, minhas vontades
Por fora.
Diante.

Foi radiante acalmar as emoções
(não pude evitar sentir as emoções de confrontos)
(não pude evitar me julgar)
(não pude evitar encontrar as ideias fixas)
(pensamentos soltos)
(não pude evitar procurar por resoluções, conclusões, assim que )
(não pude evitar encontrá-los, e soltá-los e acordar cedo pra limpar a mim mesmo).
Olhei pra mim, me aumentei, me diminuí, me abracei.
Olhei para o outro. Gostei, desgostei, senti vergonha, chorei por dentro, e disse: que boba, talvez seja espelho.
Ri de mim mesmo.
Quis fazer que as pessoas ao redor.
Quis embora no segundo dia (não de verdade, mas sentir raiva)
Quis sair e já me mudei para a Vila.
Senti saudade do terceiro de Oxalá e dos espíritos. 
Relembrei que existe gente no mundo que não acredita em espíritos. 
Tudo bem porque talvez eles nem sejam tão importantes assim.
Teve também os conceitos, claro.
A ideia fixa, a felicidade, a raiva, a conclusão, o “é assim que”, o certo, o errado, o fora, o dentro, o real, original, o “o que é?”, o “como é?”, a sociedade, o eu real, o pensamento do ser humano, o que é na realidade, a essência, o “é tudo sobre mim”, a pesquisa, os objetivos, a procura.

A procura…
Sair com muitas perguntas, alguns indícios de caminho para percorrer é muita estrada para desconhecer 
a mim  
ao outro 
e ao mundo que me [cerca].

Perceber que nos condicionamentos da vida, nos automatismos em tudo aquilo “que é” em que “sei que é por que é” a gente se perde da procura da criança que fomos. É atrás desse espanto que cabe à mente e ao coração correr.
É atrás desse de  Si.
eu sou a fechadura – e a chave 
é a porta em toda sua completude. 
vislumbrei essa possibilidade. 
achei pelo buraco da porta que sou. 
e vi maravilhas.
e pandemônios
e orgias
e funerais
e crianças
e espelhos
e estes eternas fincadas no chão
e contudos
e meus olhos, 
que são
e só.
só vi meus olhos.
e bastou.

As vezes achei que fosse terapia. Competição (tudo dentro, claro), loucura, revolução, festa. Nada disso. Era sobre o que eu escondo mais do que sobre o que eu carrego. Era sobre encontro e suspeição do que se considera piamente. Foi sobre amor, carinho e escuta. É muito chá. Sobre viver de forma fácil, simples e carinhosa.
DESCOBRI!
É possível!
Foi sobre pesquisa de mim. O fora está dentro, na verdade. Eu dentro está carregado de “é assins” e por tantos iguais. 
Pode ser mais leve, disseram.
Acatei.
Pode haver outro Jean por trás disso.
E há.
E anseio encontrá-lo!
Quero mesmo é viver a mim de verdade, procurar minhas vontades.
No fundo da memória viva do coração e gritar num dia às 5:00 da sacada mais alta: – Eu sou, por isso existo.

E que febre quando esse dia chegar e eu puder respirar tranquilo enquanto a chuva cai. Que trégua!
Cessar de confronto.
Paz comigo.
Nesse dia, pegarei minha caneca de cerâmica preta e ao tomar chá quente lembrarei:
Muitos te trouxeram a mim.
E será.
E serei.
Pode ser que esse dia foi hoje. 
09/01/2022

3. Daqui para frente.

Vi que talvez seja sobre compromisso sincero e soltar.
Já me apresentei com essa experiência.
Presentear
Quero me apresentar mais com sinceridade.Olhar honesto para o meu corpo e para minha mente, minhas ideias. Sair daqui é dar a mim mesmo a oportunidade de ser acolher e olhar e consolar. Me presentear genuinamente mais vezes para ver que deve ser bom presentear genuinamente os outros. Sem esperar benefício ou recompensa. Pelo puro prazer de dar um pedaço desse de que eu criei e dei forma. Me sinto assim no amor, dou amor pelo puro prazer de amar e dar e construir e ver que é bom. Expandir essas conexões e demais para mais conhecidos ( e desconhecidos também, que se tornariam conhecidos) e me permitisse perceber melhor e sentisse que o presente é um afeto da alma? Quero arriscar. Incentivar a economia local, minha família, não soa consanguínea, fazê-los crescer. Olha-los com olhos que veem o real.

Só se vê bem com o coração,
eu creio nisso.

O próximo passo também é convidar pessoas, trazê-las para olhar e sentir de fato. Querê-las bem. Felizes. Certas de si. Prósperas. Reais. Vulneráveis.

Saio com inquietação e ansioso para ler as notícias nos jornais os de hoje de fato, não os de um ano atrás que reveste o lixo do salão. Retomar conexões, rever laços, adotar posturas, depositar em mim a ficha da minha transformação. Em meio a tantas abstrações, criamos / crio cada vez mais conceitos e estratagemas para lidar com a sustentável e insuportável realidade. É preciso, de verdade? Duvido agora.

Saio com vontade de abraço sincero de mãe (que vou dar), de conversa sincera de pai (que vou ter), de olho sincero da irmã (que vou olhar) e tudo mais que as pequenas relações-seduções puderam me afetar nos próximos dias. Acredito profundamente em mim. Sei que piso sobre o mundo e piso forte. Só meus pés são visíveis, só meu corpo é meu (nem isso, descobri). Carrego comigo a fé em tudo que vive e a ideia fixa de que posso me olhar e transformar a mim mesmo tantas vezes quantas forem necessárias.
EU ME VEJO.
Quero hoje um abraço meu.
Se eu me der esse prazer 
estarei sorrindo.
Saio leve, corajoso e forte. 
Vislumbrando o futuro, honrando o passado.
Contente e mexido. 
Ansiando pelo Conhecer a Si.
Será ou Serei?
Veremos.

Curso para Conhecer a Si – fevereiro/2022

Por que / para que pesquisar?
Por que conhecer ou eu?
Qual o mo
tivo da viagem?

Costumo dizer que sou professor, dentre muitas outras coisas que também digo que sou. Sou professor porque geralmente ensino coisas aos alunos e as ajudo a chegarem a conclusões lógicas e consensuais.

Agradáveis.

Do lugar de onde eu venho costumo chamar isso de professor.

Visto a personagem. Minha relação com professores sempre foi de tensão. Não havia raiva, quase nunca. O que havia era vontade de agradar. Claro que sentia quem fazia por mim o ( e de fato sempre quis buscar conhecimento através dos estudos), mas algo no cerne também gostava de cumprir todas as tarefas do dia e entregar todos os trabalhos que os professores passaram. Me tornei perfeccionista e um grande fiscal de mim mesmo. Me tornei a figura professoral de aluno que eu mesmo sou. Uma figura simpática, mas rigorosa.

Me lembro de um dia que me marcou bastante. Caí na sala da professora mas brava da escola, a tia Kátia. Aquela mulher gritava alto quando brava e passava medo em todos as crianças que não se comportavam bem. Era também um doce com as que tinha um bom comportamento. Um dia fui pego conversando com um colega, (de trás ou do lado) e ela ficou muito brava comigo. Enquanto me dava bronca, eu mal conseguia respirar. Me faltava ar e sentia muita vergonha. A indignação da tia Kátia aumentava junto ao meu desespero, arrependimento, desconforto e tristeza. Até que ela me fez uma pergunta etérica que afirmava o meu mau comportamento (“você gosta de conversar, não é?”). e nesse ponto crítico, já vermelho de segurar o ar, não suportei mais conter as emoções e desabei a chorar copiosamente com a sala inteira me olhando, no silêncio de vergonha entre coitado pelos gritos de reprovação da professora. Lembro da sensação de queda da primeira lágrima represada nos dois olhos muito marejados. Quando caiu a primeira lágrima, irrompi no pranto soluçante que poucas vezes na vida revivi. Senti falta de ar de tanto soluçar e chorar. A sensação de feição comigo me ocorre facilmente agora. Fiquei vermelho (senti a sensação de rosto todo pressionado e contraído). Senti vergonha dela (que tinha importância de uma mãe para mim), dos meus colegas de classe (que, na minha cabeça, não poderiam me ver tão humilhado) e de mim mesmo (pelo que eu tinha feito). Ela dizia: agora não adianta chorar! Continua conversando, vai!

Pouquíssimas vezes me veio esse episódio à mente, nunca lhe dei tanta importância, na verdade.

Mas hoje percebi que decidir em diante, posso não ter sido mais o mesmo. Por alguns anos continuei conversando na sala de aula e desobedecendo um pouco os professores. Mas perto dos 11,12 anos algo em mim aconteceu que me fez querer me tornar o primeiro aluno da sala. Desde então me esforcei para sempre tirar 10, comecei a me sentir competitivo e triste ou feliz quando comprava minhas notas a de colegas, comecei a sempre ser o destaque do semestre na escola e ser condecorado publicamente com medalhas de honra ao mérito. Todos gostavam de mim, eu era um exemplo na escola, na igreja, no teatro, entre os amigos. A arte ajudou a mediar a situação, me investigando a pensar livremente e  me garantindo algumas antipatias por isso (algumas pessoas passaram a não me apreciar por expor  minhas vontades e preferências). Isso sempre me incomodou, mas me consolava com um “fazer o quê?”.

Na faculdade essa questão me pegou fortemente porque ali comecei a não ser gostado por mais pessoas e, não obstante, pessoas começaram a me odiar (minha percepção, claro) por coisas que elas diziam que eu era. Isso sempre me doeu muito e nunca me conformei com o fato de algumas pessoas não gostarem de mim por coisas que elas achavam que eu fosse. Isso reforçou mais uma postura de atitudes de a grande mudança dos 12 anos em relação aos professores: são os únicos lúcidos, coerentes e sábios o bastante para me julgarem serem importantes para mim. Frente a essa decepção com os meus colegas, valorizei ainda mais a percepção que tinha com a verdade acerca dos meus professores. No ensino médio eles me elogiavam me vinham como o responsável e o bom que eu era, portanto eram os únicos que realmente me viam de verdade – de acordo com a minha verdade.

Não que fosse de todo ilusória minha adoração aos professores, mas acreditei tanto na ficção que inventei e que o sistema educacional reforçou que eu tomei como verdade absoluta. Tornei fato, uma percepção como estratégia de sobrevivência emocional.

Lembrar desse episódio durante nossa última reunião hoje me fez ver indício de que minha insegurança social e necessidade de aprovação do grupo, mas sobretudo dos que representam a minha autoridade de professor, podem ter raiz na vergonha, medo e tristeza que eu senti com a tia Kátia na infância e tecido alimentado ao longo de todo o meu crescimento escolar e acadêmico, a cada estrela, medalha ou menção pública que eu ganhava, dia após dia.

Percebo agora, depois de toda a trajetória de conhecer a si, que a questão não é ser um bom aluno ou tirar notas boas, mas na motivação disso tudo, nas crenças que me moveram a vida toda e nas percepções todas que tomei como fatos, tanto os de colegas, quanto a dos professores sobre mim.

Sinto minha confiança abalada e por isso não é fluida nem entendimento de “autoconfiança” como algo que turva ainda mais nossa percepção,clara, como faria um bom aluno em busca de estrelinhas, mas trazê-las ao coração como estratégia prática e consciente tem sido difícil de realizar. Não me assusto, pois tive a mesma sensação com o tema de virtualidade das percepções, como se fosse inapreensível absolutamente, ou com a negação de que “não, nunca poderia reagir minha sexualidade”, mas de um instante para o outro a mudança na percepção de tais temas se fez quase que instantaneamente, imperceptivelmente tão forte e lúcida que me fez acreditar ter compreendido pelo coração. Não fico ansioso, portanto. Nem me sinto muito mal, pois tendo começado a desvendar o mecanismo, creio que com o caminhar da observação, outros aspectos se esclarecerão e novas abordagens poderão vir à tona.

Tudo isso para trazer mais luz a minha questão com auto confiança e insegurança. Para compreender melhor o sentimento de negação que me arrebatou tão fortemente o dia 4 e que fez com que eu me sentisse menor, inútil e desimportante. Grande parte desse desapontamento vem do fato (que na minha cabeça é fato) de sentir que não foi olhado pelos zeladores, e sentir que meu material não recebeu o mesmo cuidado por parte deles em comparação com aos materiais dos outros participantes, por supor que não olham para mim com o mesmo zelo que aos outros (mesmo quando digo coisas que parecem importantes) ou que quando digo algo, logo desviam o assunto como se minha interferência fosse desimportante antes do tema central, aquele “que importa”.

Sei que tudo isso é minha percepção, sei que são minhas conclusões – e tenho trabalhado seriamente com elas desde o seminário. Durante as reuniões me esforço para fazer que meus colegas sejam o foco de minha fala, não os zeladores, tentando assim renovar minha percepção e aos poucos desafixar as figuras de autoridade da zona de importância para mim. Tenho trabalhado. E observado. Às vezes sou pêgo por essas percepções nas reuniões, me chateio, mas sigo confiante no método e disposto a olhar com as novas ferramentas que pude conhecer. Um caminho para a autoconsciência. Tudo isso reconheço que parte de um desejo genuíno de ser parte de algo bom e grande, de contribuir com minhas ideias e inspirações, de fomentar debates e chegar e ajudar o grupo a chegar ao estado de “conhecer”. É genuíno, real e puro.

Por ser professor e ator, e ter estudado por algum tempo consciência corporal, sempre me esforço para dividir o olhar com todos enquanto falo enquanto falo. Mesmo que eu queira falar muito com apenas uma pessoa, gosto de olhar a mim mesmo e tentar dividir genuinamente meu olhar com todos para todos sentirem incluídas da minha fala. Quando percebo e julgo (factualização) que os outros (principalmente os professores/zeladores)  não têm o mesmo cuidado, rememoro os momentos na escola em que os professores olhavam só pra alguns e outros (as quais me incluo) se sentiram excluídos. Dessa maneira factualizo que os outros que são mais olhados, são mais importantes e que eu, por consequência, não estando ali não foi não faria diferença. Sei que essas reações partem de um desejo profundo e original de estar junto e construir carinhosamente pensamentos juntos, mas acabou sendo afetadas pelas crenças, premissas, ideias-fixas, factualizações,  falta de autoconsciência e na suposição da falta de autoconfiança (que nem seria bom existir mesmo).

Pesquiso por isso. Primeiro, pelo prazer que sinto em me ter como matéria de pesquisa ( por isso faço teatro também). Sinto deleite por pesquisar meu corpo externo interno, prazer e inspirações reais. E depois, pesquiso pelo prazer do movimento, da iminência de mover, do deslocar de mim para mim. Acho graça nisso. Algo do ego me faz sentir especial por estar me estudando, mas isso logo vejo que é percepção do ego. Pesquisa por que no teatro aprendi a entender medos e encontrar coragem em mim mesmo quando vejo que não existe. Dá medo e insegurança, mas a coragem de me ver no espelho segura as estruturas mais frágeis. Até hoje pensava que pesquisava para achar respostas, não concluir mas olhar evidências lógicas do real. Hoje também descobri que talvez a instabilidade das dúvidas – que sempre se renovam – seja mais desejável e frutífera que conclusões sobre o real (o que não teria nenhum sentido de acordo com o que temos  investigado). Essa descoberta, como a questão da autoconfiança, ainda está na mente racional. No coração ainda sinto vontade da suposta segurança que o conhecimento dá,  mas fico já muito contente e satisfeito com o que descobri até então.

Hoje senti o grupo agradável e muito raro, no sentido de que nunca mais se repetirá.

Senti afeto,
expressei
acalorou
e soltei. 

Feliz.
Grato.
11/02/2022

Curso para Conhecer a Si – fevereiro/2022

Penso que sou viva, criativa, amiga, medrosa, etc… um monte de adjetivos de julgamento que fiz desde lá atrás. Conhecer quem sou, como penso e percebo, sinto ser bem diferente. Junto com meus companheiros de curso experimentei perceber o mundo através dos órgãos dos sentidos. Captar pela percepção, o mundo.

Muitas surpresas. O que eu captei é o real? O que nós captamos foi a mesma coisa?

O conteúdo da minha cabeça interpreta o que chega e a resposta que eu dou a isso é resultante de tudo o que aprendi, que vivi, que me lembrei. E que quase sempre está bem longe da realidade que entrou. 

Realidade. Que realidade? É sempre minha interpretação. No entanto afirmo convictamente : é verdade. É assim.

Isso é a minha crença. Isso é meu pensamento.

Por que investigo o meu pensamento junto com os outros, eu assisto a muitas interpretações variadas de uma mesma realidade. 

É assim que funciona o pensamento humano ?

Sempre baseado nas vivências, conhecimentos e memórias de cada cabeça , que tem a sua originalidade e a sua particularidade ?!?

O mecanismo de funcionamento do pensamento humano é o mesmo para todos. Conhecendo pelas vivências e experiências sensoriais como se dá a percepção, a “minha ” percepção parece real. Confundimos o fato com o nosso pensamento.

Se espero mesmo me conhecer seria interessante olhar isso. O que tem dentro do meu inconsciente, como experiências, conhecimentos, memórias que se combinam com a percepção resultando numa determinada emoção, sensação, sentimento, pensamento.

Quando cheguei aqui na Vila para o curso, um amigo veio até a mim e me comprimentando eu ouvi ele falar algo como: “chegou a velha safada”. Como a máscara também dificulta o entendimento e eu estranhei o que entendi, perguntei mais duas vezes e veio a mesma coisa. Esperava uma recepção diferente dessa. Mais amorosa. Achei grosseiro, me ofendi, me senti machucada.

Fiquei com essa sensação de incômodo por uns dois dias. Não queria falar no grupo. Eu pensei em falar depois diretamente com a pessoa. No entanto encorajada pela Marceline acabei vomitando ou melhor, cagando o sapo.

Pesquisando dentro de mim encontrei nas memórias :

a “Maria Louca” que levantava a saia mostrando a bunda para as pessoas, na rua onde eu morei na infância. A tia Rosinha que levantava a roupa da minha irmã bebê que estava no colo dela e que todo todo mundo na sala ria ao ver a bunda dela. Eu sentia vergonha e constrangimento.

Malícia

Aquele que gosta de sexo é safado e eu gosto de sexo. Olhar a reprovação da mãe para com as mini-saias que eu e minhas irmãs usávamos na década de 60. Safada eu que ao abrir a porta do quarto do meu pai me deparei com ele em ereção. Veio também memórias dos banhos que aos oito anos meu pai nos dava tocando nossas genitálias.  As minhas e das minhas irmãs. Sensação de abuso.

Minha busca desenfreada por prazer… Como sentia desejo pelo meu pai e isso não pode…reprimo expressar meus gemidos de prazer… temo ser uma mãe libidinosa para os meus filhos… Reação enorme quando veio “velha safada”.

Reagi a que? Ao meu amigo? Ao que ele falou? Tomando isso por fato?

Reagi aos meus pensamentos fixos, às minhas memórias, reagi às reações que vinham em cadeia uma reforçando a outra: ” Não mereço esse tratamento…não venho mais aqui…foi assim porque eu me exponho demais…etc, etc…

O que pensei que está fora, está dentro de mim. Olhando para fora, distorço percebendo como fato, o que eu captei. Começo a entender o funcionamento dos meus pensamentos e reações. Vivendo no ambiente repressor e malicioso (é também minha percepção) construí os mandatos, os pode, não pode, vergonha, é assim etc…

Acredito que não gosto de conflitos gerados por esses julgamentos inferidos ao “outro” baseados nas minhas referências.

São meus conflitos.

Até gostei agora, desse comprimento do amigo. Gostei de ter pesquisado e visto tantas coisas fixas de mim, em mim.

Conhecendo o pensamento humano e seu funcionamento posso estar autoconsciente dos meus processos vivenciais e de ter autonomia para ser quem eu sou.

Quem eu sou ???

Curso para Conhecer a Si – fevereiro/2022

6 a 12 de fevereiro de 2022
Participantes: Eu, Vivi, César, Jean, Miguel, Fuji e Lara
Zeladores: Marceline e Alam

Para mim, o curso teve duas partes: os primeiros dias conhecendo como é a percepção; e os últimos, conhecendo alguma ideia fixa e vendo como ela me afeta.

Antes do curso já tinha refletido sobre a pergunta “será que tenho autoconsciência de que é minha percepção?”, mas agora parece que consigo enxergar isso. Conhecendo as etapas – a pura sensação dos sentidos, o reconhecimento, os pensamentos-emoções e a reação – a ideia que tenho da percepção deixou de ser algo imediato e plano, e passou a ser mais complexo/3D. Um exemplo simples foi ouvir o Jean dizendo algo como “preciso lavar roupa” para alguém da zeladoria, e eu pensar “não faz isso Jean, vai dar trabalho”. Qual é a relação entre o que o Jean falou e o que eu ouvi?

Isso de querer evitar dar trabalho apareceu para mim várias vezes durante a semana. Por isso, quando foi a vez do tema “não pode fazer/não pode deixar de fazer” quis entender melhor o que é isso de “dar trabalho”. Vasculhando camada por camada, usando pistas dentro de mim e nos exemplos dos outros, fui enxergando a expectativa de uma tragédia: “se eu der trabalho, algo de muito ruim vai acontecer”. Esse pensamento envolve a ideia de causalidade e de onipotência, como se o futuro dependesse do meu autocontrole. Mas qual seria essa tragédia? Penso que seja o sentimento de ter expressado uma necessidade muito básica e não ter sido atendida. Essa (suposta) memória, gerou um padrão de “me viro sozinha, não preciso de ninguém” desde que eu era muito nova. Esse sentimento de insegurança e austeridade, trouxe comigo até hoje. Porém, em todo esse tempo, fui cuidada e dependi de uma infinidade de atos humanos, independentemente do meu pensamento. De modo geral, mesmo me sentindo insegura, estive sendo “segurada” e até hoje é assim.

Pistas para pegar a factualização no pulo:
1. Emoções que não surgem da empatia (ou seja, fora de contexto)
2. Pensar que alguém ou eu mesma “não fez/fiz alguma coisa” – essa é batata!

Live 30/01

No domingo assisti a live com Ono-san, Leticia e Igor. Vendo a apresentação da comunidade em Suzuka, admirei as fotos e a explicação. Também pensei que o essencial estava dentro das pessoas e que isso dificilmente poderia ser mostrado. Imaginei que se alguém me perguntasse “Mari, você esteve lá, como foi para você?” e eu tivesse que dizer algo bem sucinto, eu diria que o mais importante foi poder ver como eu estava dentro de mim. Por que eu tive que ir pro Japão para ver isso, sendo que posso olhar pra mim a qualquer momento em qualquer lugar?

Não é que eu não fizesse ideia do que se passava dentro de mim, mas quando realizei o sonho de ir para o Japão e ao estar na presença de pessoas que admiro, recebendo presentes a todo momento, percebi que eu não era plenamente capaz de desfrutar desses presentes. Aqui no Brasil, vivendo mais ou menos no automático, eu não me sentia tão afortunada – a faculdade é chata, o trabalho é ruim, a família é exigente, etc etc. – então “tudo bem” não desfrutar…

Podemos estar bastante insatisfeitos com a realidade exterior, desejando que fosse diferente, pensando “se fosse assim, eu ficaria bem”. Mas supondo que “fosse assim”, será que eu realmente ia ficar bem? Será que sou capaz de desfrutar das circunstâncias favoráveis? Penso que sim; mas, ainda não estou plenamente ciente dessa capacidade.

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Ao escrever o parágrafo anterior, me perguntei qual seria a razão dessa aparente incapacidade. Olhando para minha história familiar, penso que aprendi a me relacionar com as pessoas por meio das dificuldades. Por meio de um problema, as pessoas se conectam. Aprendi assim.

Olhando para a profissão que escolhi – fisioterapia – vejo que ainda estou dando bastante importância para a conexão com pessoas através dos problemas. Enquanto terapeuta, me relaciono com alguém que está com dor ou com dificuldade de se locomover, etc. Existe um problema que nos conecta.

Relações de pessoas com pessoas, sem mediação, como será? O que estou chamando de mediação acho que são os papéis sociais: professor-aluno, mãe-filho, terapeuta-paciente; se eu tenho um papel, tenho uma função; se eu tenho uma função, posso me relacionar. Relações de pessoas com pessoas, sem função, como será?