17 de abril.
Cheguei 29 de fevereiro.
Tenho passagem de volta para 25 de maio.
49 dos 87 dias em Suzuka.
Comecei o programa de estágio ScienZ no dia 13 de março.
Hoje é dia 35.
Situação 1 – O Diego mandou mensagem para folgar na sexta-feira também.
Eu queria ir e pedi para me escalar na sexta-feira.
Ele respondeu: Ok, venha lá pelas 7:30. Pode fazer mawari no shigoto e souzai.
Quando li isso, pensei: “Fudeu! Não, mawari no shigoto, não!”
Lembrei da primeira vez que eu fiz mawari no shigoto.
O Diego explicou para mim cada detalhe enquanto ele estava colocando tampas nos obentous do dia e coordenando toda a movimentação do moritsuke.
Várias vezes eu tive que ir perguntar para ele coisas que ele tinha acabado de me explicar.
Por ex. não consegui entender de imediato o número de pedaços de ovos que ele pediu para mim cortar.
No fim desse dia eu até perguntei para ele como tinha sido para ele, achando que deve ter sido “cansativo” ou “exigindo esforço” de me orientar enquanto ele estava vendo o moritsuke. Ele falou “Foi tranquilo”. Mas eu acho que pensei “Mentira, não foi tranquilo, pelo menos um pouco”.
Quando eu vi então que ele me escalou para esse tal de mawari no shigoto, pensei “Vou tentar fazer o mais certo possível para não dar trabalho para o Diego, já que eu forcei ele a me escalar.”
E fui hoje de manhã, me esforcei para não dar trabalho, cada coisa que eu consegui fazer fiquei aliviada por não ter incomodado o Diego.
Se alguém puder me analisar e explicar que diabos me faz inventar essas histórias e me colocar sob uma pressão tão grande????
Situação 2 – Estava comendo no obentouya. Na minha frente tinha um tupper com pedaços de alface. Queria comer bastante alface, mas não estava querendo colocar o alface no meu prato que estava com molhos sobrando das outras comidas. Então comecei a pegar pedaços de alface com os meus dedos mesmo.
Senti levemente que “isso não se faz”, mas acho que estava mais focada na conversa com as pessoas.
Alguma hora chegou o Takemichi, ficando em pé atrás de mim, conversando com Diego. De repente surgiu um pensamento “Meu deusss, o Takemichi vai me xingar por colocar a mão na comida aqui no obentouya onde se troca de luva a cada hora e de jeito nenhum coloca a mão na comida!!!” Não vi onde o Takemichi estava olhando, se ele tinha reparado em mim, mas para mim parecia absolutamente real que ele estava aí atrás de mim, como um monstro que ia me atacar a qualquer momento por eu ter feito uma coisa muito, muito errada. Uma sensação real de muito medo, de ser castigada, exposta para todo mundo.
(Depois fiquei sabendo que o próprio Takemichi tinha pego um pedaço de frango frito na mão.)
Se alguém puder me analisar e explicar que diabos me faz inventar essas histórias e me colocar sob uma pressão tão grande????
だめ =わるい / 役に立たない / ありえない。
ruim, mau; inútil; falhado, impossível.
O Sato san fala “Uai, porque é tão importante ser visto como alguém que saiba fazer bem as coisas? Não é muito mais leve podendo falar “Não sei fazer isso 😉 Não consigo fazer isso 😉
Além disso tem um monte de coisas que não sabemos fazer e nem por isso estamos preocupados, como “não consigo correr 100 metros em 10 segundos, e daí?”
Claro, crescemos em uma sociedade que valoriza e recompensa os fortes, os hábeis, os espertos, os rápidos e inferioriza e castiga os fracos, os desajeitados, os burros, os lerdos…Mas será que na real alguém quer fazer isso? Será que na real não é natural do ser humano de querer proteger e acolher os fracos? E dar apoio aos fortes para que eles possam se desenvolver bem e cuidar dos fracos? Essa ideia de bom e ruim, desejável, preferível ou melhor ou indesejável e pior….é uma ideia e sendo uma ideia ela pode mudar. Não sou teimosa, é meu pensamento que é. Como corrigir uma maneira de pensar com o mesmo cérebro que criou essa maneira de pensar cheia de equívocos? Essas ideias (conceitos, maneiras de ver, valores) são pensamentos = conclusões ativamente tirados da observação da realidade ou são simplesmente adquiridos copiando as pessoas ao nosso redor (como pais, professores, amigos, pesssoas na mídia…)?
“Observando a realidade” no sentido de ver como as pessoas se comportam – se uma pessoa fizer tal coisa, ela é castigada, xingada, cortada, mal vista = isso é algo que não pode fazer.
Daí vem esse grande medo das pessoas.
Tudo adquirido.
Nada disso é de nascença.
E nos seres humanos não estamos aqui neste mundo para viver desse jeito.