impressões seminário as one

17o Seminário AS ONE – MAIO/2020

Querido Universo,

Hoje é o último dia do “meu” primeiro Seminário AS ONE. Acordei agora, 5 da manhã, feliz e feliz e feliz de estar viva, estar presente, estar aqui.

Quando cheguei, esperava por mudança. Mudança essa que eu sentia nos irmãos mais velhos e pais da Vila (Paraíso). Acho que começo a entender dentro de mim tal mudança e como gosto de chamar, ‘estado de espírito’, mas que nem isso tenho certeza na escolha de palavras e termos. De qualquer forma, tudo o que experienciei aqui é um grande presente que enche a alma, talvez neste caso podemos chamar de essência, com algo mais puro que a ilusão da ‘vida em que vivemos’.

Houveram tantas descobertas feitas durante esta semana que mal sei por onde começar… Vamos do início então (início aquitempo em que ficamos mas pode mudar).

Primeiro, antes mesmo de chegar aqui teve o início do dia. Acordei turbulenta pois “não ia dar tempo” e para lidar com este sentimento, procurei por uma conexão familiar, uma amiga. O dia foi… Fuji passou em casa para me buscar. Comemos e chegamos fisicamente aqui. Logo após apresentações, onde estava me questionando a tudo e todos, já fizemos o exercício de dois círculos que sem um papel em cima eram diferentes, mas com o papel, eram iguais. Naquele momento eu pensei em coexistência como um todo mas agora refletindo isso inclue a cada um de nós, sendo diferentes dependendo do contexto mas iguais na essência.

Depois, fizemos um exercício/atividade (aqui estou usando ambas palavras como sinônimos) de escuta. Vimos e ouvimos uma entrevista e através do exercício ficou claro que a escuta é interna mais que externa. Tudo está em nossas mentes e isto foi reforçado ao longo da semana.

Sinceramente, houveram tantos penamentos, sensações, emoções durante a semana que me sinto incapaz de citar um cem ávos do que se passou dentro de mim. Em especial, talvez, foi a certeza que preciso mudar meus mecanismos, pensamentos. Não separar eu do ‘outro’ e ver a conexão constante. Não comparar-me ao outro. Sair desta mentalidade separatista com ênfase no ‘superior e inferior’, ilusões criadas e como que soliificadas no mundo atual em grande parte.

Penso que a partir das diretrizes do Método ScienZ, serei capaz de aos poucos ir me aproximando de minha essência e da essência do todo, junto também da Rede As One.

Acho que por hora é isto que consigo pensar e aplicar como escrita mas procurarei continuar anotando, escrevendo, refletindo, aplicando, desenvolvendo tudo o que foi trabalhado aqui.

Gratidão, gratidão, gratidão, por tudo que levou a esse momento presente.

Presente! O presente tempo e presente dado- faz sentido?… Aah..

Até a próxima, com muito carinho,

Yara Cabral-Seixas

Vila Yamaguishi, Seminário AS ONE, 5 de Junho de 2021.

Flutuando

***Publicado originalmente no meu blog, ANARCA É A MÃE!, em 07/05/2018.

“Para você, que gosta de gatos” dizia a legenda da pessoa que me mandou o vídeo. Era um vídeo sobre como se comportavam os gatos em gravidade zero. Que nem em uma estação espacial.

Acontece que gatos, como se sabe, têm um sistema interno muito interessante que lhes permite quase sempre cair de pé. Se você solta o gato no ar, mesmo que ele esteja com os pés para cima, ele rapidamente identifica onde é em cima, onde é embaixo e gira o corpo, primeiro a metade dianteira, depois a traseira e voalá. Aterrisagem leve e perfeita, com as quatro patas lindamente cravadas no chão.

E em gravidade zero?

Em gravidade zero, não há em cima, não há embaixo. Não há cair. Daí que o gato fica se torcendo desesperadamente para um lado e para o outro, tentando identificar o “chão”.

Eu não gostei do vídeo, achei enervante, angustiante. Mas muitas pessoas – como a que o enviou para mim, suponho – acham aquilo engraçado, fofo. Se você quiser ver, eis o link.

Este texto, no entanto, não é sobre o sofrimento dos animais em experimentos conduzidos por seres humanos (apesar de eu ser solidária à causa), mas para falar sobre um curso que eu fiz em fevereiro passado, chamado “Seminário As One“, oferecido pela Vila Yamaguishi, em Jaguariúna.

O que uma coisa tem a ver com a outra? Me dê um segundo que eu já chego lá.

O seminário são oito dias de imersão em grupo (de preferência um grupo de pessoas que não se conheçam entre si), em um sítio, sem contato com o mundo exterior (nem mesmo por celular), refletindo intensamente sobre questões simples, mas fundamentais da nossa existência.

Basicamente, conduzimos, de forma científica, uma pesquisa em torno do zero (no sentido de esvaziamento das nossas presunções, pré-concepções, preconceitos, dogmas, etc.) através do reconhecimento e temporária suspensão de tudo aquilo que não é esse zero.

(E, ah, como tem coisa que não é o zero… é de cair o cu da bunda, como se diz no sul.)

A premissa já é muito interessante, mas o método, a forma como essa investigação ocorre, também é completamente diferente de qualquer coisa que eu já tenha vivenciado. Os “zeladores” – como são chamadas as pessoas de lá que nos acompanham durante o curso – muito pouco falam. E, quando falam, normalmente é na forma de perguntas. O que acaba acontecendo é que, apesar de haver uma orientação básica em uma direção, quem anda são os integrantes do grupo, com suas próprias pernas… e o caminho leva cada pessoa, ao mesmo tempo, para dentro e para fora de si mesma.

A furiosa (em intensidade e, em alguns momentos, humor) pensação é interrompida somente para alimentação, banheiro e higiene pessoal e do ambiente. Ah, e alguns minutinhos de leves exercícios para começar o dia. É puxado, uma maratona cerebral mesmo – ainda que sobre assuntos que não sejam só intelectuais. Até eu, que me considero uma pessoa bastante racional, porque vejo que muito do meu processamento das coisas passa pela minha cabeça e, especificamente, pela sua articulação em palavras, fiquei em algumas horas com uma vontade louca de, sei lá, fazer uma ciranda, uma pintura, dançar…

E, no entanto… “Dá vontade de sair para dar uma volta”, uma colega comentou num dado momento. Um dos zeladores levantou as sobrancelhas: “Ué, e por que você não vai?” Não era uma pergunta retórica. Algo que é vivido no seminário, desde o momento de chegada até o momento de partida, é que não existe obrigação. Existe escolha. Eu posso não gostar das escolhas que tenho ao meu dispor, mas isso não faz da minha escolha menos escolha.

E foi com pequenos detalhes assim que, nessa busca, eu fui perdendo meu chão… meu em cima, meu embaixo, meu norte, meu sul. O que enfim traz à baila os gatos em gravidade zero. Porque, de repente, me peguei agradecida por ter visto o tal vídeo, mesmo que não tenha gostado dele, porque me trouxe acolhimento encontrar a imagem perfeita para ilustrar o furacão de sentimentos dentro de mim – e de tantas outras pessoas, aparentemente.

Eu passei uma vida toda aprendendo a designar um céu e uma terra; desenvolvendo esse hábito a partir de uma necessidade de segurança, de não querer me machucar, de querer cair de pé. E agora eu estava vendo que, no fundo, nunca houve céu nem terra, mas apenas escolhas minhas de ir em uma direção ou em outra, baseadas na minha forma de ver a vida e o mundo e eu mesma. E que, por hábito, por medo, eu agora, tendo me privado dos meus eixos de costume, me contorcia, procurando alguma base de sustentação.

Essa ideia me permitiu colocar de lado o meu desespero para fazer eu mesma o experimento de simplesmente me deixar flutuar. E então perceber que não estava caindo. Porque a sensação da queda – e seu impacto – vinham da mesma ilusão que me trazia segurança, ou seja, a ideia de que havia direções certas e erradas para eu seguir.

Naquele momento, desvencilhada dessa ilusão, eu tomava consciência de que era livre para flutuar.

Seminário As-One (relato)

O Seminário me trouxe mais clareza quanto ao que está fora e o que está dentro de mim, e me proporcionou ferramentas para me manter nessa pesquisa no meu cotidiano, ou seja, me manter próxima dessa clareza.

Além disso, pude rever meus conceitos sobre questões envolvendo posse, propriedade, liberdade e natureza humana, encontrando espaço para o aprofundamento dessa reflexão, vivenciando de forma prática e concreta a percepção das minhas crenças, meu apego a elas e o início do meu despojamento delas.

Isso porque, embora muito do que surgiu já fizesse parte de um trabalho reflexivo que eu já vinha desenvolvendo há sete anos, com o auxílio de inúmeros métodos e fontes profissionais, creio que tenha sido a primeira vez que eu vi as coisas de forma tão prática e intuitiva.

Encontrei acolhida, organização e eco para muitas das ideias que eu já tinha, e isso no trabalho de pessoas que vêm pondo em prática tudo isso há décadas, o que me trouxe segurança e conforto.

Foi muito especial para mim vivenciar a sensação de ser uma com tudo. Um momento em que eu me senti como se estivesse numa viagem de ayahuasca, por exemplo, sentindo cada célula em mim como parte de um mesmo momento com cada partícula existente em cada ser vivo ou não vivo do universo.

Me senti inserida, pertencente a esse ciclo mágico da existência, com tudo o que já veio exatamente como foi ou ocorreu fazendo parte disso, e um mundo de infinitas possibilidades à nossa frente.

Quando eu tento expressar isso em palavras, o resultado me parece óbvio, mundano, até. Mas, dentro de mim, a compreensão disso, não com o intelecto, mas o coração, foi muito forte, muito intenso e muito gostoso. Me trouxe uma sensação leve, de paz e felicidade que, embora em menor intensidade, ainda perdura agora. Uma serenidade e aceitação que transbordam de dentro para fora de mim, se projetando em direção a outras pessoas.

Melhor dizendo, esse processo todo acontece dentro de mim e altera a minha percepção de outrem, me ajudando a desbloquear o meu olhar de criança para o mundo ao meu redor.