6a semana jornada da escuta

Descobri que sem CO2 o oxigênio não entra nas células e, assim, não alimenta os tecidos. Mesmo que inspire mais e mais rápido, isso não vai levar mais oxigênio para as células; ao contrário, vai reduzir o CO2 de modo que o O2 que entrar pelos pulmões vai sair sem ser aproveitado pelo corpo.

Nesse sentido, querer ouvir é como querer inspirar: pode se dar muita atenção aos sons, às palavras, às expressões da pessoa, pode abster-se de julgamentos e opiniões, de caretas e outras reações, todo esse esforço coloca o ar nos pulmões, mas não oxigena as células.

Inspirar e ouvir, expirar e falar – ações espontâneas/automáticas/naturais, que precisamos para viver, mas que em geral fazemos errado: esforçando muito e aproveitando pouco.

5a semana jornada da escuta

Minha escuta tem 2 níveis: um intelectual e um emocional.

O nível intelectual é o que reconhece as palavras e gestos a partir de uma linguagem comum aprendida e comporta múltiplos significados.

O nível emocional é binário, reconhece (0) segurança ou (1) perigo.

Relacionando com o sistema nervoso, seria assim:

escuta intelectual – sistema nervoso central

escuta emocional – sistema nervoso periférico autônomo (0) parassimpático e (1) simpático.

A multiplicidade de significados das palavras é infinita, porque depende da quantidade de palavras existentes, dos significados intrínsecos (etimológicos), dos significados históricos (usos) e dos individuais (o conteúdo da palavra pra cada um).

Apesar disso, no nível emocional/físico toda essa complexidade se resume a: estou seguro ou em perigo?

As palavras, por si sós, não são seguras nem perigosas. Quer dizer, as palavras não são coisas, mas apenas fazem referência a coisas, que podem existir ou não. Quando escuto uma palavra, associo a palavra à coisa e assumo que a coisa existe. Assim, reajo às palavras como se estivesse reagindo a coisas reais. Exemplo: “a janela está aberta”. Penso que existe “janela” e que existe “aberta” e reajo. Esse é um exemplo fácil, mas na maioria das vezes não sabemos a que coisas as palavras se referem; mas, mesmo sem saber, estamos reagindo.

Independente do que seja (infinitas possibilidades), a reação é muito simples: estou segura ou em perigo?

5° encontro – Jornada da Escuta

sai aflita com a questão da escuta.
é impossível ou só difícil escutar o outro?
pra mim tem uma coisa de que pra ouvir tem que tá perto, dar tempo.
mas aí eu percebo que minha escuta estava pressupondo uma ação, eu escuto meu aluno de taichi, não só as palavras mas o corpo dele para então fazer com que ele pegue um movimento. eu escuto/ausculto meu irmão de 3 anos para captar a necessidade dele naquele momento. eu ausculto um amigo para. eu não escuto meu pai para. eu escuto para.
escutar exige tempo, claro. tá junto e tudo mais. além de ser algo legal tá junto.
mas no fundo no fundo escutar e ver o outro sempre vai tá impregnado com minha subjetividade, né? não só subjetividade psíquica, mas estrutural até, do meu corpo e tals.
se tiro da frente a “produtividade” da escuta.
se tiro o escuto para, ou, não escuto para….
se eu somente “escuto”? parece que escutar o outro se revela algo bem mais complexo qdo tira o para. perceber essa complexidade me gerou uma afliçãozinha.
não sei ainda de onde veio isso.

me lembrei de um poema do Pessoa:
Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo


4° encontro – Jornada da Escuta

escutar/ auscultar

hoje eu lembrei do meu naikan ao pensar sobre a diferença desses 2 verbos. qual seria a qualidade que cada um tem que os fazem ser distintos um do outro. um momento antes do naikan eu fiquei preocupada de não conseguir lembrar dos acontecimentos da minha infância, pq minha memória é mto forte qdo se trata de localização geográfica, espacialidades, percursos… materialidades em seus extremos detalhes, mas quase vaga para relações entre pessoas.
só que lá eu tive uma experiência mto legal de ir vasculhando o conteúdo da memória, a partir da concretude do que aparecia, principalmente da memória geográfica, fiz vários mapas o que me ajudou mto. e fui observando as várias coisas que apareciam juntas…. emoções, pensamentos, uma espécie de criação “fabular” que surgiram depois de tal acontecimento, às vezes anos depois, algo do tipo: a memória da memória, só que um pouco distorcida, que não tinha a ver com o acontecimento em si, mas que estava ali operante.
as perguntas do naikan recortavam o meu olhar e me conduziam para ver o “real” do acontecimento. e isso era um fato, qdo eu localizava o acontecimento internamente era real, não tinha imaginação, emoção, e nada, era um: “ah, foi isso então” “ah, lembrei disso!”. e a sensação era diferente de lembra de um fato, ou, de lembrar de uma memória que eu tinha do fato. tinha algo lá dentro de mim, só precisava observar com calma.

e isso, a distinção das imagens internas que tive no naikan, me fez pensar que tem algo próximo com o sentido de “auscultar”. a imagem de auscultar que me vem de cara é de um médico ouvindo os pulmões de um paciente, e isso me trás uma imagem de que tem que aproximar os ouvidos do peito e observar com calma algo de lá de dentro, ouvir, com audição, perceber vibrações que chegam pelo contato orelha-caixa-torácica. só assim dá pra identificar o que cada coisa de lá de dentro tá fazendo. o pulsar do coração é diferente da contração e expansão do pulmão, apesar de estarem próximos não são a mesma coisa, não emitem o mesmo som, mas para diferenciar essa percepção do que se ausculta é preciso limpar os ruídos, é necessário saber algo da natureza desses órgãos internos, é necessário se aproximar. como no naikan, se aproximar, fazer uns mapas, lembrar da roupa que usava, deixar vir as memórias… isso exige tempo. é um demorar-se para que coisa se revele.

agora “escutar” pra mim tem essa dimensão de uma certa distância, de ser algo que capto de longe, de coisas que já foram processadas internamente e ganharam a extensão da voz e chegam até meus ouvidos. e assim como auscultar um órgão interno é preciso saber distinguir os ruídos, acho que tem algo de escutar/auscultar uma pessoa que é saber distinguir o que o que está sendo falado do que sinto qdo ouço.

no encontro de sábado eu fui falando que quando estou insegura e ansiosa (às vezes ansiosa pq insegura) não consigo parar pra escutar as pessoas. muito menos auscultar. não só as pessoas, mas a mim mesma. de não saber o que quero dizer qdo puxo um papo sobre se vai chover hj. de não dar o tempo pra “ouvir longo”. de se ouvir lá… internamente… o que quer de coração dizer, antes de chegar na voz falada. mas o que parece que é mais fácil é ganhar distância, e ir ganhando distância, e mais distância até que o som não chegue aos ouvidos, tanto o som da voz do outro, qto do próprio coração pulsando. pq se chega gera mais ansiedade, então é melhor que o processo seja interrompido no seu princípio. assim mais ou menos como na fala, vai parando de falar, de expressar.

esse texto foi um esmiuçar de imagens e palavras que surgiram aqui dentro de mim com o encontro de sábado sobre o que é/como é escutar e auscultar. como explanação textual quis olhar do zero pras palavras e ir fazendo analogias com os sentidos que carrego aqui dentro, MAS o que fica mesmo do encontro, além das palavras, além da fala e da escuta é um: tamo junto, galera! foi lindo o compartilhar de tela com a Mari, a Sandra, o Itamar, o Milton, o Romeu, a Sheila, a Ana, e o Álvaro. essa sensação ficou e tem reverberado aqui.




4a semana jornada da escuta

Eu não quero escutar quando meu co(r)po tá cheio.

Cheio de quê?

De emoções e pensamentos.

Tem que estar vazio para ouvir?

Não exatamente.. mas algo assim:

copo vazio = seguro

copo cheio = inseguro

Se estou insegura é difícil ouvir.. como se tivesse uma hierarquia de prioridade: primeiro o eu se apruma, depois recebe a novidade..

Em geral, e especificamente sobre escutar, percebo esse jeito “egoísta” de ser. Não no sentido pejorativo, mas de prioridade do eu em relação aos outros.

Eu disse que não quero ouvir para não “ter que” “resolver”.. acho que isso é como aparece quando a escuta está travada, ou seja, não é a causa de não querer escutar.

Não quero escutar, porque não estou segura. Minha atenção está focada no perigo imanente, mesmo um pequeno perigo de fundo falando baixinho em voz inaudível.

O que precisa para ter segurança? Isso é nebuloso e interessante… me movo em direção a essa segurança que não sei muito da onde vem..

falar ao outro

ao enxergar o outro arrogante, invasivo…
ao ouvir a fala do outro como bravata…
ao sentir o outro esquisito, estranho, insincero…
e
ao querer falar, transmitir para o outro diretamente

espera, pode ser que tenha algo ai…
em primeiro lugar olhar para si
o que tem aí? resistência? repulsa?
alguma crença cega em mim mesmo?

qual é a minha motivação da fala?
como está o meu estado do coração?
e . . .
qual o meu verdadeiro desejo ?
qual o meu verdadeiro objetivo ?

a minha fala contribui para tal?
seria eu a pessoa adequada para transmitir?

talvez não. . .

(traduzido e parafraseando do blog da Madoka))

Para que pensar demais

Fico o “tempo todo” ouvindo meus pensamentos e interpretando como se viessem de fora.
Minhas reações a mim mesma são colocadas em jogo o tempo todo e alimentam o meu pensar. Mudam muitas coisas, criam muitas coisas.
Interessante pensar que sou uma fábrica de pensamentos, eu não sou o que penso que sou.
A cada hora penso uma coisa ou milhares delas, e a cada hora sou uma nova pessoa, e sempre interagindo com o meio.

Acho que capto pouco de fora…

Uso pouco tempo percebendo as coisas.



dois interesses (de uma pessoa saudável)

para o meu coração,
o maior interesse é “o verdadeiro coração, o desejo que vem do coração verdadeiro do próximo”

para a minha inteligência,
o maior interesse é “como será na realidade? como será na verdade?”

a pessoa vive o seu cotidiano tendo como base os “dois interesses”: o coração a inteligência.

talvez seja isso. . .

by Ikawa

3a semana jornada da escuta

meio externo->percepção->meio interno->expressão->meio externo

ou

o mundo -> o mundo em mim -> eu -> eu no mundo -> mundo

Descubro que sou muito míope, então faço um óculos. Com óculos penso que “vejo melhor”, porque acho que o que eu vejo e aquilo que vejo ficam mais parecidos; o mundo mais perto de mim. Quando eu sinto/penso uma coisa, mas expresso outra, tenho a sensação de ser um borrão aos olhos do mundo.

//

perceber e expressar

inspirar e expirar

por algum tempo podemos controlar a respiração, mas no geral nem notamos que estamos respirando

imagina ter que pensar toda vez pra expirar?

é como querer falar e não conseguir

mendokusai !