Curso para auscultar a pessoa 17 a 20 de janeiro de 2021 (em Jaguaríuna)

Parte 1

* Nos cursos para auscultar a pessoa na Suíça pela primeira vez, o desenho fez sentido para mim: O “Auscultar” acontece pelo interesse na outra pessoa. Sem isso não existe auscultar ou em outras palavras: o auscultar não se realiza. 

Pensei: “que gênio que conseguiu condensar o conteúdo do auscultar dessa forma.”

Chega a doer pela simplicidade, no sentido “como algo tão simples e óbvio fica tão difícil de enxergar” → As pessoas, nós, inclusive eu, vamos procurar em coisas com conteúdo vago que chamamos de “auscultar é colocar-se no zero, auscultar é não ter pre-conceitos…”, mas não chegamos a olhar para o óbvio que é “o outro” que está querendo ser ouvido, compreendido, recebido.

→ Olhar para o real, observar o real em vez de ficar pensando aleatoriamente dentro da própria cabeça.

*Fiquei pensando porque será que meu interesse não vai em direção ao outro? Penso em um fator: Eu mesma não tenho muitas experiências com alguém tendo interesse no meu mundo interior. Estou num estado de fome por compreensão e atenção. Mesmo pensando que eu quero começar por mim e tentar colocar meu interesse em direção ao outro, por enquanto talvez será algo com um sabor um pouco “amargo”. No sentido de ter que dar algo que eu mesma só tenho pouco.

No mini-meeting depois do curso com Ono san consegui ver algo na minha relação com Isack (e de certa forma também com a mãe): Eu recebo muito dele, ele está sempre muito atento no que eu poderia querer, eu sinto um tipo de atenção grande dele em relação a mim, como na pesquisa no Naikan “coisas que ele fez e faz por mim…” e eu estava tentando me convencer que deve ter algo estranho em mim se eu, mesmo recebendo tanto, ainda continuar insatisfeita e junto com isso um tanto paralisada em relação a ele. Foi muito bom quando percebi que o que eu desejo dele não é primeiramente esse tipo de atenção, mas uma atenção em mim mesma. Do tipo “Como foi o Naikan pra vc? Como foi na Suíça para vc, como foi dessa vez com os pais, como foi fazer a tradução…?” Fico bem mais tranquila agora só de conhecer esse meu estado. Parece que me dá folga de ver melhor o real do Isack, o real de mim. Posso assim deixar de tentar forçar o Isack ou forçar a mim mesma. Me senti totalmente responsável pela qualidade da nossa relação, esse peso por enquanto amenizou bastante.

*Um outro ponto ficou mais claro: Eu estou me vitimizando o tempo todo. Parece que eu tenho isso muito forte. Pôr a culpa no outro ou nas circunstâncias. Neste sentido não estou muito diferente da minha mãe que passa os dias se queixando do meu pai, da vizinha, dos netos, dos filhos, disso, daquilo. Ela não tem muito como mudar isso, mas eu tenho, por ter a oportunidade de rever esse eu com a pesquisa.

A causa disso é que eu ainda não tenho a auto-consciência que tudo acontece dentro de mim, que estou reagindo às coisas que tenho dentro de mim.

Eu ainda caio no engano que eu estaria reagindo às coisas que “parecem vindo de fora”.

Ainda não está claro que “eu vejo – e penso…”, “eu ouço – e penso…”.

Eu escrevo agora “eu ainda…”, pois na verdade eu penso que é possível me tornar uma pessoa com auto-consciência. Aos poucos, passo a passo. Faz somente alguns anos que entrei em contato com essa forma de pesquisa que começa pelo ponto fundamental que é “conhecer o pensamento humano”. Que tipo de ser sou eu? Um ser que capta as coisas ao redor pelos sentidos. E em seguida acontece o processamento das coisas captadas, influenciado pelas coisas que já estão armazenadas dentro de mim…