A gente não sabe pensar

Já tem um tempo que tenho afirmado que na maioria das vezes eu não ajo eu Reajo, nem sinto, eu Resinto. Agora abriu essa percepção de que tudo que eu achava que era pensamento, também não é pensamento. Sentir, agir e pensar, só podem surgir do vazio, do campo de criação, do Zero. Todo o resto é: especular o futuro, imaginar o futuro, relembrar ou imaginar o passado, julgar as coisas em cima de ideias e crenças, criticar a partir de bases já construídas de ideias. Apesar de usar a mente pra isso, não estamos pensando. Saber o que não é pensamento já é um primeiro passo. Não estou pensando! Estou aqui no guru-guru. Deixando a mente no automático, reproduzindo imaginações sem parar. Daí com essas imaginações eu resinto e reajo. São atitudes que estão desconectadas do presente. Estou aqui agora escrevendo, tem um celular em minhas mãos, tem um corpo que está sentindo tudo isso enquanto escreve. Paro e percebo a respiração. Dá pra acreditar nisso tudo? Dá pra sentir o que é se perceber um ser não-pensante que acredita que está pensando o tempo todo? Onde é que eu tava esse tempo todo meu Deus?! Onde? Tava na imaginação de um passado ou de um futuro, nunca aqui e agora! Distante de mim, distante do outro, distante do acontecimento. Léguas e léguas de distância. E aí lá de longe vem a vontade e um esforço gigante pra se reaproximar, dando voltas pra chegar mais perto e ficando cada vez mais distante. Intimidade. Quero intimidade com um estado natural de ser humano. Não dá pra conhecer-me de fora. Se to fora, se to longe, se estou me enxergando através de teorias, julgamentos, especulações, morais. Não vou ficar íntima nunca. Sempre estrangeira em mim mesma, estrangeira nessa terra, nunca familiar. Pisando em solos perigosos, desconfiada, armada. Sem intimidade

o que tá íntimo é o que tá perto, é o que está confortável e seguro em si mesmo. Intimidade não tem esforço, tem estar perto sem barreiras. Como será esse estado dentro de mim?
se não consigo ter intimidade nem comigo mesma, se estou sempre fora de mim, do que acontece agora, como vou ter relações de intimidade?

Pra começar me sentir íntima desse processo de pensar, sentir e agir a partir do zero

Check Up 36

Como foi fazer 1 mês


Como será uma pessoa saudável? Acho que esse ponto de vista ainda é fraco em mim. Conhecer o estado saudável, o conteúdo disso.

Isso eh melhor fazer assim; tem que ouvir as pessoas; têm que responder/atender as pessoas; são vários pensamentos e conceitos que me fazem mover minhas ações e palavras tentando parecer uma pessoa saudável, tem um erro aqui eu acho.


Acho que já desde antes de ouvir essa ideia de pessoa saudável, foi a moral/princípios que sempre estiveram no consciente e inconsciente não permitindo ver os sentimentos apenas como eles são.


Todo dia nesta reunião colocando os exemplos práticos a gente vai junto clareando qual será a forma saudável/original do ser humano.


Todo dia com a oportunidade de colocar meus exemplos a cabeça vai funcionando, nao fica presa em alguma coisa, sinto que tá sempre avançando. Também tem o sentimento de satisfação por estar sendo ouvido.

Reação sem importância


As reações surgem, mas ao dar importância  para elas que a coisa fica na cabeça, o sentimento fica pesado, escuro, mas se não der importância, pronto logo acaba… tudo bem, bom próximo!!


Mais do que essa coisa de reação sem importância, eh uma questao de nao dar importância para os fenômenos.

As palavras das pessoas, as ações das pessoas, os acontecimentos, etc na verdade isso talvez nao tem muita importância.


Se não der importância para estes fenômenos acho que nao tem necessidade de se proteger, também não surgem os sentimentos ruins.

Esse reuniao do check up tem apenas mais três semanas, no momento agora eu ainda queria um pouco mais…

relações amorosas

durante a conversa de hoje surgiu a questão de intimidade e relação estreita com as pessoas. a certa altura comentamos sobre como condicionamos a nossa percepção sobre alguém, e que, mesmo convivendo e executando tarefas juntos, pode acontecer de nos esquecermos de perceber e ouvir o que está dentro do outro. o foco sai da relação e vai para outro lugar, e com isso vem as cobranças, o outro perde sua subjetividade e se torna uma função. já quase no final da reunião veio forte a questão dos relacionamentos amorosos que já tive. o quanto assumir a função “namoro” mudou coisas. e o quanto eu não soube o que fazer com meus sentimentos diante de uma experiência de paixão.

para mim sempre foi mais cômodo administrar uma vida sexual do que administrar uma vida afetiva, embora as duas se entrelaçam. mas no campo do discurso e da prática há diferenças sim, e esse lance de manter a minha liberdade era algo fundamental, e manter a liberdade do outro também. não sei bem o que quero dizer com liberdade, mas sempre tive um segredo interno de que eu não poderia me deixar levar pelos sentimentos, principalmente os de namorado. quase para marcar e reafirmar minha autonomia enquanto mulher. minha autonomia sexual, intelectual e artística! só que no meio desses envolvimentos eu me apaixonei algumas vezes. 3 vezes especificamente. e lidar com isso não foi tão simples. percebo que era como se a minha liberdade ficasse ameaçada, então eu nunca soube como agir mto bem em relação ao que eu desejava verdadeiramente. de coração. ainda não sei bem como agir, apesar de ter mais consciência do que se passa no coração. 2 dessas paixões ainda ecoam em mim, penso nelas e tenho sentimentos e não sei como agir tb. então para refletir um pouco sobre essa fenda do desejo que percebo em mim vou escrever sobre essas paixões, nas quais eu fiquei confusa entre o que eu queria e o que repelia, quem sabe assim eu consiga me pesquisar melhor.

a 1° paixão foi por um músico com quem tive um relacionamento de 3 anos . nos 2 primeiros anos era uma coisa mto boa e divertida, estávamos desprendidos um do outro, ele vivia a vida dele e eu a minha, nós nos víamos qdo dava e não existia cobrança de nada. muitas vezes eu me sentia insegura do quanto dizer sobre meu sentimentos, mas isso não importava muito pq transávamos muito bem e era evidente que sempre íamos manter esse vínculo, além de sermos artistas e ter boas conversas. no primeiro ano nosso relacionamento era muito discreto, mas no segundo ano foi se tornando algo mais social, fazíamos atividades públicas e viagens com nossos amigos. em uma dessas viagens eu fiquei com mto receio do quanto eu estava gostando dele, e o quanto eu poderia me decepcionar, achei que o melhor fosse me distanciar pra evitar alguma desilusão. mas ele tb estava mto apaixonado, e voltando da viagem ele me pediu em namoro. a priori eu não queria, mas tivemos umas conversas pra entender o que chamávamos de namoro, e eu aceitei, nesse caso namorar significava ter um relacionamento fechado e alguns acordos específicos. para mim, não tinha mais problema de ser fechado, pq eu já não me envolvia com outras pessoas nesse momento. apesar da confusão eu acabei topando e foi muito suave o começo do namoro, estávamos praticamente vivendo juntos, trabalhando juntos em 2 peças e tínhamos mto desejo de estar perto um do outro. só que em um certo momento começou a ter mtas cobranças da parte dele, e eu comecei a ficar insegura, comecei a negligenciar minhas vontades para dar conta disso, e fui ficando insatisfeita, mas não sabia sair disso. fiquei pensando que assumir o namoro mudou algo, o quê? por quê? essas cobranças não existiam antes. bom, a partir daí o relacionamento foi bem intenso, não durou mto. logo terminamos, mas foi bem intenso mesmo, cheio de acontecimentos que me deixaram chateada e triste, juntou mtas coisas na minha vida e nos últimos meses acabei tendo depressão e perdi 10 kg. felizmente consegui sair desse estado depressivo com ajuda médica e acolhimento dos meus amigos e da minha família.

o 2° rapaz por quem me apaixonei foi um caso breve, 4 meses talvez, mas foi bem potente. é um desses que reverbera até hoje. nessa época eu realmente não queria nada com ninguém, e ele tampouco, então a gente se envolvia com outras pessoas, eu especificamente com um rapaz de sp. e foi nessas circunstâncias que no conhecemos. eu logo tive um sentimento mto bom, nós conversávamos muito e tivemos mtas aventuras. só que diferente do rapaz de sp, eu tinha vontade me envolver afetivamente, apesar de todo receio que eu estava de começar uma nova relação pela confusão que tinha sido a anterior, eu sentia vontade de construir algo, eu tinha mtos sentimentos que iam mto além da sexualidade, mas eu nunca falei pra ele. acabou que viramos amigos, conversávamos bastante e depois ele foi embora. eu digo que ecoa pq sei lá, às vezes que falo com ele ou vejo fotos dele eu sinto mto diferente meu corpo. eu não sei se isso precisa se encaminhar, mas é algo que eu percebo, existe um encontro, mobiliza meu corpo e meu imaginário.


o 3° foi um ator que conheci qdo me mudei para São Paulo. bom, nessa época eu tinha essa paixão que tinha ido embora e tb me relacionava sexualmente com àquele mesmo rapaz de sp. nós então começamos a nos envolver, e qdo me dei conta que aquele mesmo sentimento de paixão estava surgindo eu quis dar uma fugida disso, mas não deu mto certo. nós já tínhamos construído uma intimidade mto grande, e ele tb estava apaixonado. ai foi isso, aquele segredo interno e o receio de relacionamentos operavam de um lado enquanto meu coração operada de outro, e eu não sabia o que fazer. um dia ele me perguntou e eu fui bem honesta com ele e disse sobre essa outra paixão e o outro rapaz. ele não entendia o fato deu gostar de 2 pessoas ao mesmo tempo. era mto importante para ele se sentir seguro e isso gerava mta instabilidade. depois de um tempo, apesar de não querer abrir mão da minha liberdade de poder sair com esse outro rapaz, que apesar de não ter uma paixão por ele, era alguém que eu gostava de me envolver esporadicamente, eu acabei deixando isso de lado e pedi ele em namoro. eu já estava mais consciente de algumas coisas e queria trabalhar nessa contradições. tivemos 9 meses de namoro, foi algo mto legal. só que ele estava com outro planos de vida e acabamos desviando da possibilidade de estar juntos. ele se mudou para França para estudar cinema esse ano. essa paixão tb ecoa, já fazia um tempo que não nos falávamos, pq achávamos que era mais saudável cortar comunicação, mas sempre existiu uma vontade de saber como ele estava diante do caos sanitário que o mundo está vivendo. e isso foi um conflito interno nos últimos meses, escrever ou não escrever?
acabei mandando uma mensagem esses dias e ele respondeu a mensagem ligando, conversamos por 5h. eu fiquei mto feliz de saber que ele está saudável e bem. mas durante a semana depois da conversa, me que veio uma culpa, fiquei pensando que não deveria ter feito isso, mesmo tendo uma conversa super legal. como se ex-namorados não devessem conversar tanto, sei lá.

nessas questões de relacionamento eu sempre achei que eu fosse bem resolvida, mas não, era só ansiedade e medo de perder a liberdade de existir e fazer o que quero, e isso acabou me afetando. sempre busquei modos de agir para não deslizar, então acabei reprimindo coisas que queria ter dito e feito. esse meu medo secreto deve ter a ver com como funciona as relações nessa sociedade machista, medos abstratos que me fizeram olhar as relações humanas amorosas de um jeito determinista e superficial. por trás de tudo a insegurança se confrontando com o desejo de querer confiar, mas sem saber como fazer, buscando formulas às vezes. eu realmente me pego pensando essas coisas. mas pensar sobre as relações amorosas que mais me marcaram, está me fazendo refletir até sobre o conceito de paixão, sobre minha sexualidade, e sobre o que eu quero. poder limpar as coisas da frente pra poder realmente entender como essas coisas operam. no último ano minha visão do que é o relacionamento humano, sendo amoroso/sexual, ou não, tem se ampliado mto, e rever essas questões de paixões à luz da consciência um pouco mais alargada é mto interessante, é reconhecer que talvez eu possa ter esses sentimentos ainda, mas é não me apegar e me identificar com eles, é estar conectada e saber o desejo do coração a cada instante, sem ansiedade. é um processo, mas só de mudar o paradigma de pensar o que é as relações humanas, ajuda nesse processo todo.