um dois três e

Alerta: teoria à vista; depois melhora, não desistam

                Hobbes é um filósofo moderno da corrente contratualista, segundo a qual a sociedade se formou a partir de um contrato. Esse contrato é o acordo de que algumas liberdades deveriam ser restringidas para que houvesse segurança e paz; e assim teria surgido o Estado e suas leis. Historicamente, o Estado não surge para garantir a paz, mas para controlar as terras, os territórios nacionais, fazendo uso da violência para isso. Apesar dessa inconsistência, a ideia de contrato social reverbera em mim.

Quando penso em “formar” uma comunidade voltada para a pesquisa e para a felicidade das pessoas, me pergunto: por que não posso fazer isso agora mesmo com qualquer um? como iniciar essa realização? Parece que o estado “natural” da sociedade de hoje é o da desconfiança entre as pessoas, que se comportam para agradar umas às outras e assim garantir algumas trocas benéficas para si. Então, me pergunto, como será a transição desse estado para o de tranquilidade em se expressar a partir do coração?

Eu não quero a partir de mim mesma agir com espontaneidade e me sentir vulnerável com isso (na verdade, acho que nem se eu quisesse conseguiria ser assim de uma hora pra outra). Penso que quero fazer um acordo, um contrato: a partir de agora vamos todos ser espontâneos e lidar com isso juntos através da pesquisa. Me vêm à mente a cena de um filme que não lembro qual, que é uma roda de homens apontando cada um uma arma para o outro, de um jeito que todos estão apontando e sendo apontados ao mesmo tempo. Nesse momento a cena congela, porque se um atirar todos atiram. Eles estão presos na própria teia que formaram. Se alguém abaixar a arma, vai se tornar automaticamente o mais vulnerável de todos. Minha impressão é que devia ter uma fala do tipo “um dois três, todo mundo abaixa a arma”. E só assim iriam se liberar dessa paralisia. Em termos mundiais, podia ser os países destruindo suas bombas nucleares.

Esse é um exemplo dramático para ilustrar como estou enxergando as relações de aparência baseadas na insegurança. Acho que vivemos no modo “quando o outro baixar a guarda eu baixo também”, mas o outro pensa a mesma coisa e no fim ninguém se libera. Será que é a intenção de viver sem armadura que vai construir a sociedade livre? Acho que ninguém gosta de carregar o peso da armadura, mas todos o fazem para se preservar, mesmo que para isso tenham que perder em liberdade e amizade verdadeira.

Onde está a segurança que não precisa de armadura? Como começar? Seria dentro de mim, reconhecendo as defesas que construí ao longo da vida? Acho que em um ambiente intencionalmente receptivo, as armaduras ficam mais evidentes, porque gera desencaixes do tipo “nossa, por que usei essa bazuca para matar essa mosquinha?”. O ambiente acolhedor facilita perceber as defesas, porque elas se tornam inúteis. E de fato, não são tão úteis assim né.  

*Depois que eu li o que eu escrevi pensei que não faz muito sentido dizer “começar”. Esse bonde já tá andando há um tempo e eu subi nele em movimento ~~

PSE 4 – 6 – [29/08/2020]

Hoje de manhã na marmitaria eu olhei para o estado da Jon In e pensei que para ela mesma e para as pessoas em volta dessa maneira era melhor ela voltar para casa. Eu experimentei falar isso para ela.

Ela disse: acho que eu vou voltar para a Coreia. Chorou um pouco e foi embora do trabalho.

Ao ver isso me surgiu uma emoção de insegurança/medo.

Acho que essa emoção surgiu a partir de imaginar ela desistindo de ficar aqui e voltando para a Coreia.

O que serah que está acontecendo? Qual será o meu pensamento?

– Ela foi embora por que eu falei?
 – Voltar para a Coreia eh uma coisa ruim?
– Eu nao estou em posição de falar isso para ela, nao tenho esse direito?
-O que serah que o OnoSan, SakaiSan, SatoSan vão pensar de mim?

Como será que estou vendo/ qual sentido estou atribuindo a conversa das pessoas?

Curso para Realizar o “Um” – Impressões

Uns dias antes do curso, tivemos uma reunião de pesquisa da Academia. Conversamos sobre como estamos vivendo agora, se a postura está sendo de continuar a viver como antes da Academia, com uma visão de ser humano e de sociedade preenchida com suspeita, insegurança e essas coisas, ou se estamos realmente tentando fazer algo diferente, pra viver do jeito que somos de verdade.

Acho que durante esses 5 dias de curso, foi ficando mais claro dentro de mim qual o objetivo da Academia, dos cursos, de todas essas reuniões. Do porquê de pesquisar o estado de coração, qual o desejo, como é a forma que realmente queremos tomar.

Durante o curso eu nem entendi direito o que estávamos vendo, na real nem entendo agora também e tentando escrever sinto que fica muito na teoria.
Mas…
Senti que deu um arredondada em tudo que vim fazendo até agora, na Academia, nos cursos, como um todo.
No meio do curso eu senti que não tava pegando muito bem a ideia do material, mas depois que terminou tinha alguma coisa que mudou dentro de mim.
Acho que uma visão mais clara foi se formando, do porquê da pesquisa do ser humano, porquê ir pro trabalho, pras reuniões, a observação, o dia a dia da Academia. Uma visão geral do porquê desse movimento todo, desse formato, e de que esse formato dá pra mudar e tá constantemente mudando pra seguir mais de acordo com o objetivo disso tudo.

Também tem uma certa leveza sobre as manifestações do estado de coração, meu e dos outros.
Acho que eu tinha/tenho algum negócio sobre “esse tipo de reação não é bom”. Fico tentando reprimir certos tipos de pensamentos e sentimentos achando que pareço que “eu to fazendo direito” as coisas (a pesquisa, a Academia”).
Mesmo que na real é exatamente isso que não to fazendo direito.
Mas sinto que quanto mais claro o objetivo fica, mais eu largo mão do parecer.
Vai ficando claro que fingir que não há um estado insalubre só gera um efeito adverso.

Talvez meus valores atuais, de botar peso e colocar como objetivo as coisas que se manifestam (ações e palavras) acabam fazendo eu olhar pro estado de coração insalubre como algo ruim e acabo tentando esconder isso.
Mas o importante mesmo é o olhar de “como tá o estado de coração”.
E isso é só o caminho pra voltar pro estado normal. Esse desejo sustenta tudo isso.

Acho que só começou a nascer esse olhar do todo, e também to escrevendo logo depois de sair do curso, com tudo bem fresco na cabeça. Talvez daqui uns dias isso nem tá claro como agora e sinto uma certa relutância em relação a isso.

Faz 2 dias que o curso acabou, e dentro dessa leveza que sinto em relação às reações, senti que tem alguma teimosia/esforço dentro de mim sobre tudo.
Dentro do pensamento de que “conseguir fazer é bom”, eu tenho reações em relação a reações, tipo “esse tipo de pensamento é ruim”.
E em cima disso, tem um eu que também diz que é ruim pensar que aquilo é ruim. Complicado né.
Mas tá dando pra ver isso de uma forma mais objetiva, consciente. O olhar vai pra como tá meu estado agora.
Tipo saindo de loop que eu tava preso.