Relato “Curso Para Conhecer a Si ” – 2020.8.15

Meu coração está muito calmo agora e estou sorrindo.
É como se uma longa e longa batalha tivesse terminado, com o peso e a dureza nos ombros completamente removidos.

Ao longo desses 5 dias, pude perceber os enormes pensamentos meus que vim cultivando ao longo da minha vida. Esse foi um tempo em que as minhas perspectivas mudaram, eu fui conseguindo enxergar as minhas próprias perspectivas (a minha própria maneira de enxergar).

Na noite do 4º dia, tive a oportunidade ter uma conversa bem tranquila e consistente e de perto com meu amigo que estava compartilhando o curso.
Neste momento, o Ban me disse estava reagindo a mim ( a minhas colocações).

No início do curso, havia um tema de pesquisa sobre os “sentidos”.
Costumeiramente dizemos: “Essa água é quente”, mas, na verdade, a água em si não é nem quente nem fria, ela é apenas “a coisa em si”. O conteúdo da pesquisa era de que a sensação de “quente” que eu sentia foi colada na “coisa em si” e factualizamos como se “a coisa em si = quente“.

Neste período, eu estava vivendo com uma “consciência” de que deveria evitar em não tomar como se fossem iguais a “coisa em si ” e a “minha cognição (percepção, reconhecimento)”. Ele estava dizendo que também iria experimentar viver com a consciência de tentar sentir a “coisa em si” como ela é.

Conforme o curso avançava, eu estava reagindo aos movimentos corporais de meu companheiro na sua pesquisa.
Do meu ponto de vista, ele não parecia se concentrar nas suas percepções, ele priorizava os achismos, ele ficava balançando demais a cadeira que estava sentado.

E então, de repente, disse ao meu companheiro: “Companheiro Ban, que tal você sentir mais?”

Voltando à noite do quarto dia, Ban me contou que sentiu estranheza/mal estar com minhas palavras quando disse: “que tal você sentir mais?”. Ele disse que se sentia como se estivesse forçando meu pensamentos. Quando ouvi as palavras, tive uma reação. Parecia que ele pôs o dedo na minha ferida.

Haviam surgido emoções negativas em nós dois de ambas partes, mas decidimos aprofundar nossa pesquisa naquela noite, por que eles tivemos tais reações, o que será que estava acontecendo.
O fato de a reação estar aparecendo não significa que essa pessoa seja má, e porque haviam em ambos o entendimento de que havia o semente em cada um nas suas próprias percepções e pensamentos, assim pudemos conversar numa relação horizontal.
Foi a primeira vez que tive uma conversa assim.

Tomamos como indicativo as reações que apareceram, mergulhamos para explorar na escuridão da inconsciência

Então, comecei enxergar as seguintes coisas.
Eu estava acreditando que a “minha cognição”( a minha percepção) que tenho em relação ao Ban é o “Ban real”, algo assim em relação ao Ban [ um cara que não consegue perceber/sentir = Ban ]
Por trás disso estava minha certeza (o que é o correto): “Agora é hora de sentir”. E entendi que que eu estava transmitindo, tentando empurrar ( impor), dizendo a ele “Que tal, você deveria sentir isso, não ?”

Surgiu um questionamento em mim, porque será que tenho tanta certeza de que os meus pensamento são corretos?
Sem que ninguém tivesse pedido meus conselhos, me convenço(acredito) que os meu pensamentos são corretos e eu estava pensando: “É claro, é assim, tem que fazer assim”.

Passei a enxergar o meu próprio padrão que interpreta o mundo à minha própria maneira e transforma em algo absoluto, as ideias que dele surgem daí.
Por que existem esses padrões? 

O que havia era a “auto-confiança”.
Eu me percebi que há um forte senso de auto-confiança em meus pensamentos.

Mergulhei mais fundo. ‥
Por que será que tenho tanta auto confiança em seus pensamentos? ‥
Havia aí, algo que eu vim agarrando (segurando) há muito tempo.
Apareceu a verdadeira identidade do que fez com que me tornasse tão fixo, estreito e
O que tornou o mundo rígido, estreito e rigoroso.

Havia um pensamento de “quero ser um ser especial”, “uma pessoa em excelencia.
Entendi que havia dentro de mim, um sentimento muito forte de que eu “tenho que ser especial”.
Percebi que estava num estado de vigilância permanente, observando se eu era melhor do que outra pessoa.

Penso que estava coletando muitas evidências para provar que sou especial ao longo da minha vida. Acho que estava gastando bastante energia atuando num jogo de superioridade/inferioridade que eu mesmo criei. Também sinto que isso foi o responsável pela maioria dos princípios das minhas ações.

Eu estava me apegando/agarrado a esse “eu especial” e estava aumentando gradativamente o seu tamanho.
Isso era tão poderoso que isso era como se fosse o “eu a coisa em si”.
E era sensível e reagia fortemente qualquer coisa que o ameaçasse.

Mergulhando cada vez mais fundo.

Por que você estou pensando “tenho que ser especial”?
Aí havia instalado um forte desejo de querer agradar a minha mãe.

E por trás dele estava a memória de que minha mãe me criou sacrificando muito a sua própria vida.
Então, eu queria atender às expectativas de minha mãe e agradá-la.

No entanto, aqui vem a perspectiva de “qual é o fato e como ele realmente é”.
Eu queria corresponder às expectativas da minha mãe, que me criou sacrificando a sua vida, mas na realidade, essa memória era apenas uma cognição minha. Eu havia apreendido como uma expectativa dela, o sentimento puro de mãe.

Comecei enxergar vários mundos eu criei nas minhas profundezas.
Ao chegar nesse ponto, eu fico triste. Muito triste.

A questão do relacionamento com a minha mãe, vou levar como tarefa de casa para e penso em encarar frente a frente.

Com a postura de “como será na realidade? qual é o fato?”, comecei a me enxergar aos poucos a mim mesmo.
O mundo muda a cada momento e eu também continuo mudando. Nessas circunstâncias, agarrar/apegar a algumas idéias e valores parece não natural, como se estivesse tentando bloqueiar o fluxo natural do rio.

Porém, tenho o desejo de colocar o mundo em um certo sentido de valores e percepções, e buscar um produto completo/acabado de “querer compreender”. Mas também sinto que isso intimamente ligado com o sentimento de “quero ser algo especial”.

Quero viver livremente, sob a ótica de “como será a realidade, qual é o fato”, cuidando e dando importância a postura humilde de “não sei, não entendo”. Dessa forma, quero eliminar a nebulosidade que está inconsciente e olhar ao redor do mundo com lentes cristalinas e transparentes.

Foi muito bom conhecer um lugar tão maravilhoso. Obrigado.

by Soichi Miyahara